Setembro era o mês de Nathanael Alves, 11 de setembro o seu dia. Se vivo fosse estaríamos levantando o cálice a estes 90 anos. Cálice, que sugere muitos sentidos, desde o sagrado aos extremos da dor.
Mas estaremos tão seguros do emprego desse “era” em relação ao legado de Nathanael? Presumo que não.
Em dia desta semana, indo queixar-me a Dr. Manuel Jaime Xavier, não das mazelas comuns, mas do ermo a que estes 90 anos vêm me deixando, sem um papo comum em afinidades, razão única de estar ali, fim de tarde, roubando o tempo de algum cliente... Ele sai da cadeira do médico e vem sentar-se ao meu lado. Eu precisava vê-lo, apenas isto.
Manoel Jaime Xavier A União
Decorrido o tempo de duas gerações de jornalistas, entrando para a terceira, Nathanael continua a nos fazer companhia. Como A União é o jornal que resta como documento vivo, vamos encontrá-lo num álbum novo não somente como o jornalista que, na sua modéstia, fazia inveja aos mais desenvoltos e que fez da crônica um ideário sutil de missionário do bem comum.
Nathanael Alves A União
“É uma pena que a humanidade não consiga manter-se equidistante dos extremos. É uma pena, porque a tendência para a radicalização só a conduz a uma infelicidade cada vez mais planetarizada, a uma angústia cada vez mais dolorosa.”
Telhard de Chardin, uma de suas leituras, não diria diferente. Creio que pôde se expressar bem mais profundamente com o que trouxe de si ou herdou da pobreza e da própria Arara, sua terra natal.
“Ah, eu desenhei corações lancetados na casca desses juazeiros, e fiz versos no barro desses caminhos que elas não leram. (Elas) as estrelas deste meu céu não eram as vulgares estrelas da astronomia; eram olhos de meninas que nunca souberam dizer e que, como as ilusões que se perderam na estrada, também se perderam na (mesma) estrada, também se apagando na noite. Não há quem faça eu me mudar daqui.”
Arara (PB, 1940) Jocelino Tomaz de Lima
Morto de longo e doloroso sofrimento culminado numa sessão de hemodiálise, desceu da cruz com a mão deitada suavemente no rosto da filha Rosângela, ali ao seu lado, e quarenta e três anos depois ao levar minha queixa de solidão a um dos raros amigos.