Para meu filho Lucas Foi em 1985. Estava com o meu primeiro filho, Lucas, com pouco mais de um ano. Mas tomei coragem e deixei-o na ...

O primeiro Rock in Rio a gente nunca esquece

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Para meu filho Lucas

Foi em 1985. Estava com o meu primeiro filho, Lucas, com pouco mais de um ano. Mas tomei coragem e deixei-o na casa da minha mãe, com toda a infra necessária. Partimos eu, o pai de Lucas, e mais um casal amigo. De carro, rumo ao Rio. Lá ficaríamos hospedados na casa do amigo, Zé Palhano, na Tijuca, e outros chegariam. Juca, o meu futuro companheiro também viria de São Paulo onde morava na época.

Viajei com dor de coluna, mas tudo em nome da Revolução. A do Rock! Naquela época não tinha celular e lembro que, todos os dias, de manhã, enquanto todos dormiam ressacados, eu descia no orelhão, para saber se Lucas tinha comido, dormido, feito xixi e cocô. Ser mãe é padecer no paraíso do Rock!

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Rock in Rio (1985)Sérgio Valle Duarte
Lembro que fomos dois ou três dias aos shows em Jacarepaguá, assistir ao Queen, Yes, Rod Stewart, James Taylor, Nina Hagen, B52, Gilberto Gil, Rita lee, Blitz, Lulu Santos, Ney Matogrosso, Paralamas, Al Jarreau, só para citar alguns. Lembro bem que Nina e B52 me causaram. Nunca tinha ouvido falar. Já o Queen foi de arrepiar até hoje.

A rotina era passear com os amigos pelo Rio nos dias que não íamos à Cidade do Rock. E nesses passeios teve de tudo. Inclusive uma noitada no restaurante Lamas, onde encontrei alguém especial que há muito não via – Eric Rosas, pessoa querida do Lyceu, da minha geração, da política. Foi festa, abraços e brindes. Esse foi o nosso último encontro. Algum tempo depois, Eric se despedia da vida.

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Som Livre
Quando íamos aos shows, tinha o esquenta. E depois ficávamos à deriva naquele espaço gigante, a dançar os ídolos. Coros, aplausos, gritos, e todos os tipos de reação daquele que viria ser um marco dos grandes acontecimentos musicais do Brasil. Na época, eu não tinha consciência disso. Só depois. E aí veio a chuva, a lama, e como brincávamos de cantando na chuva, encharcados. Eu, com a minha saúde sempre mais frágil para maiores extravagâncias, arrumei logo uma faringite que teve que ser medicada com Bactrim. E mesmo assim, viajei de volta – 3 dias de estrada – deitada no banco traseiro, sonhando com o meu Vick Vaporub.

Sim! Mas e Lucas? A primeira viagem que fiz para ficar longe de um bebê. Uma parte de mim era a maternagem, outra parte, multidão. E naquela época, meus amigos não eram pais, e só eu tinha aquele conflito. Com o orelhão de manhã cedo. Pois não importava o rock da noite anterior, às 7 da matina lá estava eu para saber das fraldas e mamadeiras. Nesse evento já entendi tudo sobre carga mental e das nossas divisões e sobrecargas da vida inteira. Hoje, Lucas completa 41 anos, e o orelhão ainda existe, só que mudou de forma.

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Odair José @odairjoseoficial
Enquanto o 24º Rock in Rio começou no último dia 13, eu me arvorei a assistir o cult Odair José. Na minha juventude achava-o brega, pois os amores eram Chico Buarque, Caetano e Gil e Gal e Bethânia. E Roberto Carlos. Mas como o resto do mundo, a partir da gravação de Caetano com Odair num determinado momento, o hit, “Eu vou tirar você desse lugar”, o meu amado leãozinho tinha e tem essa capacidade de reler coisas com a sua marca tropicalista. Pois outro dia, assisti a uma entrevista de Odair José no programa Provoca, com Marcelo Tás, TV Cultura, e muito me impressionei com a personalidade desse cantor de 77 anos. Sua vida desregrada e regrada depois; seu casamento feliz de mais de 40 anos; as opiniões sobre o desejo, a velhice, a música, e a sua trajetória. Fui conferir. Lindo o show. Guitarras e músicas românticas que eu sabia poucas. Uma plateia prateada e que cantarolava animada.

O show foi parte do Projeto Seis e Meia, que sou quase assídua, e onde tive oportunidade de ver grandes figuras da MPB. O show de entrada foi com os “Caronas do Opala”, e a maravilhosa Val Donato na abertura. Músicas da vida toda de Roberto, Reginaldo Rossi, Erasmo, Wando, e tudo que o público queria para ficar de pé e dançar.

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Caronas do Opala Sympla
Como uma onda no mar é a vida. Ondas que vão e vem. Rock que fica e faz a gente viajar no tempo. Hoje amanheci pensando na minha viagem ao primeiro Rock in Rio, e me dei conta de que, quase todos esses amigos que lá estavam comigo, já viraram estrelas. E hoje perambulam por outras galáxias. Bateu saudades de Fred, Nequinho (Manoel Alexandre Belo), Zé Palhano, Eric e Juca. Dessa empreitada estamos Patrícia Mariz e eu para contar a aventura. A minha Cidade do Rock está desfalcada. De amigos, amores e de ídolos.

A vida? Passa rápido.

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