Descobri uma preciosidade. Pense num privilégio de desfrutar do convívio diário com o nosso ilustre escritor e político paraibano, Jos...

Inédito: Dr. Ítalo Kumamoto e a convivência com José Américo de Almeida

jose americo almeida medicina italo kumamoto
Descobri uma preciosidade. Pense num privilégio de desfrutar do convívio diário com o nosso ilustre escritor e político paraibano, José Américo de Almeida, durante a sua última década de vida. Muito mais que privilégio, isso foi uma honra para nosso renomado cardiologista Dr. Ítalo Kumamoto.

— Fui convocado por Dr José Américo (assim a ele se refere), quando cheguei aqui, em João Pessoa.

Essa relação teve início na década de 70, quando era um recém-formado médico, e seguiu até o dia 10 de março de 1980, quando José Américo partiu. E a honra é fruto exatamente dessa confiança por lhe ter entregue tamanha responsabilidade,
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José Américo FCJA
para cuidar de sua saúde. Esse convívio era diário, com visita que iniciava por volta das 15h e durava cerca de 30 a 40 minutos. Além da assistência médica, a duração do tempo era preenchida por conversas informais. No início do convívio, o tema preferido era o episódio da 'Revolução de 30' versus a 'Revolta de Princesa', cidade sertaneja paraibana que teve muita repercussão no epicentro do acontecimento: Princesa Isabel, onde Dr. Kumamoto nasceu, após seus pais, migrantes japoneses, ali se fixarem.

— Dr José Américo queria sempre saber as novidades, como estava a política naquela região.

Aliás, segundo Dr. Ítalo, nas suas interações pessoais, a política e sua situação na Paraíba e no Brasil, era um dos seus temas preferidos, principalmente após perceber que o jovem médico gostava do assunto. Neste sentido, quis saber se o Dr. Ítalo pensava em enveredar por esse caminho.

Nessa convivência, algo lhe chamou atenção: "Nunca vi Dr. José Américo falar mal de A ou B, nem sobre sua família. Era muito discreto".

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Ítalo Kumamoto Acervo da autora
Sempre o recebia no pavimento superior da casa, ou seja, no então Solar de Tambaú, região assim conhecida, antes daquela área se transformar em Cabo Branco. Lá estavam (e continua preservado no Museu), os aposentos do casal e a Biblioteca particular, onde recebia amigos e despachava seus assuntos políticos.

Pois bem, voltando à entrevista com Dr. Kumamoto: "Dr. José Américo estava sempre vestido elegantemente com belos pijamas" (palavras dele). Outro fato, a estreita proximidade entre os dois lhe proporcionava informações privilegiadas, a exemplo de ser um dos primeiros a saber que a Paraíba iria amanhecer com um novo governador: Tarcísio Burity, indicado por ele.

Dr. Kumamoto considerava José Américo uma pessoa conciliadora e que impunha muito respeito. "Era um homem muito culto e um paraibano com projeção nacional, muito respeitado pelo 'status quo' da época e, assim, antenado com os problemas da Paraíba tinha grande poder de articulação. Ainda hoje é referência", destaca.

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José Américo de AlmeidaFCJA
Com uma carreira brilhante, foi governador da Paraíba, ministro de Obras e Viação (neste cargo prestou bons serviços ao Nordeste, sobretudo na esfera hídrica).

Essa feliz interação decana, entre essas duas personalidades terminou no dia 10 de março de 1980, ocasião em que José Américo partiu para o mundo real, porém invisível, e pátria espiritual futura, de todos e cada um de nós.

— Ele sabia que seu quadro era grave, mas partiu tranquilo. Lembra Dr Ítalo, que participou desse momento com a então secretária Lourdinha Luna.

Gratidão Dr. Ítalo, pela oportunidade que me concedeu, dessa relíquia de entrevista, sobre o notável e admirável José Américo de Almeida - também o homem sensível que nos deixou expressivas super-frases: "O que tem de acontecer tem muita força" é uma das minhas preferidas.

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Fátima Farias e Ítalo KumamotoAcervo da autora

Uma curiosidade
Ao concluir esse texto, observo que essa trajetória dos envolvidos nesta entrevista-artigo, marcam três séculos: José Américo nasceu no século 19 (dia 10 de janeiro de 1887) e viveu 93 anos, ultrapassando até o dia 10 de março de 1987, ou seja, século 20. Neste mesmo século, nascemos Dr. Ítalo e Eu, e estamos enveredando pelo século 21 afora. A diferença é que não tive o privilégio de conhecer José Américo pessoalmente, mas convivo diariamente com o seu mundo e parte de sua brilhante história, bem vivida, desde o início da década de 50, em sua então residência, intercalada entre o 'mar e a colina', situados na paradisíaca orla do Cabo Branco, na capital paraibana, Nordeste e Brasil. Gratidão!!

In memoriam Dedico este texto aos queridos amigos Carlos Romero e Lourdinha Luna, ambos meus amigos e, eles, em comum, de José Américo de Almeida.


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