Acrasia é um termo de origem grega que se refere à incapacidade de um indivíduo de exercer controle ao optar por ações que vão de enc...

Imutabilidade da acrasia

acrasia filosofia impulso descontrole
Acrasia é um termo de origem grega que se refere à incapacidade de um indivíduo de exercer controle ao optar por ações que vão de encontro ao que ele próprio considera ser o melhor, segundo sua consciência. Essa definição se aplica a pessoas que não conseguem moderar seus desejos excessivos e que não respeitam os limites sociais e afetivos, entre os quais se destaca o respeito ao próximo. A etimologia da palavra em grego descreve que "a" é uma negação, enquanto "kratein" significa controlar. Quando traduzida para o latim, resulta em "incontinentia", que se interpreta como incontinência, ou seja, desregramento. Atualmente, a acrasia é objeto de análise em ética, psicanálise, psicologia e psiquiatria.

acrasia filosofia impulso descontrole
Simon Vouet
Os filósofos gregos Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.), Platão (428/427 a.C. – 348/347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) exploraram a questão do descontrole, conhecida como acrasia. No diálogo Protoágoras, elaborado por Platão entre os séculos V e IV a.C., Sócrates dialoga com o sofista que dá nome à obra sobre a crença popular de que uma pessoa pode agir contrariamente ao que sabe ser correto, ou seja, ao que corresponde a um comportamento virtuoso. A partir disso, Sócrates, utilizando seu método de perguntas e respostas para chegar a conclusões, reduz a ideia de “akrasia” a conceitos opostos como bem e mal, prazer e dor. Para ele, se alguém tem consciência do que é melhor ou mais benéfico, não é possível que essa pessoa opte pelo que é prejudicial. Assim, Sócrates refuta a possibilidade da existência da “akrasia”.

acrasia filosofia impulso descontrole
Sócrates, Platão e Aristóteles MS
No Livro IV do diálogo A República, redigido por Platão no século IV a.C., o autor apresenta um entendimento de “akrasia” que se difere do de Sócrates. Neste diálogo, Platão fundamenta esse conceito por meio da narrativa de Leôncio, filho de Agláion. Mesmo sabendo que havia corpos próximos a um carrasco, Leôncio sentiu a curiosidade de vê-los, embora essa visão lhe fosse insuportável. Após um período de conflito interno sobre esse desejo, ele acabou se aventurando a olhar os cadáveres. Essa situação ilustra a discordância de Platão em relação a Sócrates, evidenciando a aceitação da “akrasia”.

acrasia filosofia impulso descontrole
Por sua vez, Aristóteles, em seu Livro VII da Ética a Nicômaco, escrito entre 335 a.C. e 323 a.C., também reconhece a existência da “akrasia”. Para ele, um indivíduo que age de forma acrática não está plenamente consciente de que deveria agir de outra maneira até que a ação se concretize. Aristóteles argumenta que tal pessoa, envolta por seus prazeres, age não guiada por um conhecimento sólido, mas por uma opinião que pode ser fraca, incapaz de resistir aos seus desejos.

Atualmente, a acrasia se torna comum e é amplamente praticada. Donald Herbert Davidson (1917 – 2003) foi um filósofo e acadêmico dos Estados Unidos. Em seu livro How is Weakness of the Will Possible? (Como é possível a fraqueza da vontade?), o pensador afirma: “Ao fazer x, uma pessoa age de modo incontinente se e somente se:

(a) faz x intencionalmente; (b) acredita que existe uma acção alternativa y que pode fazer; (c) julga que, consideradas todas as coisas, seria melhor fazer y do que fazer x; (DAVIDSON 1969: 22)

Existem dois elementos principais nesta definição: a ação acrática é caracterizada por ser intencional; e a acrasia traz uma percepção negativa para quem a pratica. O primeiro exclui ações em que o agente é forçado a agir de acordo com desejos ou fatores irresistíveis. Além disso, requer que a explicação da acrasia esteja em harmonia com a explicação mais ampla do agir intencional. O segundo é fundamental, pois distingue a acrasia dos casos, bem documentados pelos moralistas, em que o agente ignora um determinado código de conduta que deverá seguir. Geralmente, isso indica que o agente não internalizou esse código, quando decide segui-lo, o faz principalmente para evitar as punições associadas.

A incoerência no comportamento do acrático é o que revela sua irracionalidade, que se mantém em favor da própria imutabilidade.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também