No Dia do Jornalista manifesto minha gratidão a três amigos – Nathanael Alves, Carlos Romero e Gonzaga Rodrigues - que foram fundamentais na minha formação de cidadão, de leitor, de repórter e de poeta. Mas também lembrarei de Angélica Nunes, que abraçou tão bela profissão, para orgulho de todos nós.
Nathanael Alves e Carlos Romero recordo com saudade e muitas lembranças. Gonzaga continua revelando a mim os segredos da arte de ser jornalista e cronista. Quanto a minha filha, ela escolheu a melhor parte e descobriu seu caminho, sempre estimulada a continuar sendo voz contra a tirania e a insensatez. Os três jornalistas foram originais na vida.
Gonzaga Rodrigues / Carlos Romero / Nathanael Alves A União
Nathanael me acolheu como um filho, colocou os livros em minhas mãos e me ensinou a gostar do Jornalismo. Carlos Romero foi um pastor amoroso que ofereceu importantes lições. Gonzaga, não menos fundamental na construção do meu caminhar pelas redações, mostrou o caminho da crônica, como produzir o texto leve e conciso. Para Angélica tentei repassar o que deles recolhi como ensinamentos à profissão de jornalista.
Os três trilharam com coragem o caminho da Imprensa, produzindo jornalismo de alto nível. No seu tempo, Nathanael Alves deu aprumo ao texto de opinião, ao artigo que leva à reflexão, enquanto que Carlos Romero trilhou pela crônica lírica, de amenidades. Gonzaga sempre abordou o apascento humano, passeou pela paisagem rural, pela memória da cidade.
Eles sempre escreveram com facilidade, clareza do pensamento, brilho e relevo, produziram cintilantes crônicas, belas e com arte.
Fizeram ver que a vida de jornalista é desgastante, mas dá prazer vivermos para os outros, sabendo do pouco tempo para nós.
Todos viemos de uma região em que o verde afagava o olhar, por isso sempre tiveram a poesia como companheira de suas produções literárias.
Sem abandonar minhas qualidades de camponês, o trio de amigos moldou minha fidelidade à terra, esculpiram o caboclo que sou, com a originalidade de nascença, apegado às rochas, ao massapê, às fontes dos riachos e às paisagens fascinantes de Serraria.
Neste Dia do Jornalista, homenageando os quatro, faço minha reverência a Nathanael pelos 90 anos do seu nascimento, que seriam completados no dia 11 de setembro. Para a minha filha desejo comprometimento com o que se propõe fazer, sucesso e bênçãos. Para Gonzaga a veneração de sempre. Quanto a Carlos, em sua homenagem, peço licença a Germano Romero para transcrever a crônica que seu pai publicou no jornal O Norte (10/09/1952), sobre o dia do profissional da Imprensa.
O Jornalista
Convencionou-se chamar o dia de hoje o Dia do Jornalista. Nada mais justo e merecido.
Isto, porém, não impedirá que os homens de imprensa suspendam a sua pena, os dedos da máquina de escrever, e passem o dia flanando ou, então, recolhidos tranquilamente em suas casas, entregues a uma santa e recuperadora paz burguesa.
Pelo simples fato de ser hoje o Dia do Jornalista não quer dizer que os que fazem jornal deixam de comparecer às redações, que as linotipos silenciem, que as máquinas impressoras emudeçam madrugada a dentro.
O dia do jornalista é um dia comum para os jornalistas. Um dia como os outros: sem festividades ruidosas, sem discursos, sem banquetes, pomposos, sem notícias exageradas nos jornais. Aliás, os jornalistas encaram o seu dia com uma leve ironia, uma ponta de ceticismo. Eles bem que poderiam trombetear o elevado sentido desta data, a grande significação histórica e social que ela envolve. Mas, os jornalistas preferem o silêncio.
Cabe mais ao leitor deter um pouco o seu pensamento e meditar sobre a data de hoje. Cabe ao leitor indagar: - que seria do mundo, das democracias, da liberdade, da vida das nossas instituições, se não houvesse esse homem chamado homem de imprensa? Esse homem que trabalha com os fatos, diariamente, muitas vezes, sem a mínima recompensa?
Se não me engano, o jornalista não teve direito ainda a uma estátua, na praça pública, como homenagem ao seu labor quotidiano, ao seu heroísmo e desprendimento.
O jornalista (falo do jornalista profissional, do homem do batente) quase sempre é injustiçado. A glória, a fama, raramente cobrem o seu nome, o seu túmulo. A riqueza raramente o visita. O que ele poderá receber como recompensa ao seu trabalho, ao seu esforço, é uma boa surra, altas horas da noite, somente porque disse uma verdade, defendeu uma injustiça, viu aquilo que não era para ver.
Em geral, o jornalista faz a fama dos outros, ajuda os outros a subirem facilmente na vida. Já é uma grande coisa.
O leitor deve, no dia de hoje, pensar um pouco nisso tudo, enquanto o jornal está em suas mãos, o jornal, que representa o pão que o diabo amassou para quem o faz.
(CARLOS ROMERO)