Se meus queridos leitores e leitoras pensam que alguma vez na vida já tinham visto um sujeito machista é porque não conheceram o Navarro. Esse sim, sempre se achou o macho dos machos; macho alfa, de origem, raiz como se diz mais modernamente. Já a esposa, Matilde, criatura de pouco parecer, educada, e como de era de se esperar, submissa ao maridão.
Navarro tinha emprego do governo, e Matilde era do lar. Tiveram três meninos, uma escadinha com ano e meio de diferença nas idades dessa garotada. Primeiro veio Júnior, depois o Camilo e fechando a fila, Roberto. Festa de batizado do caçula, nosso bravateiro já colocou suas manguinhas de fora mostrando que em sua prole, testosterona é o que não iria faltar. Saiu com essa: “Quem tiver cabrita em casa que vá guardando, porque daqui a alguns anos vou soltar os meus bodes”.
E foi logo de começo tomando providências com seus cabritinhos para que os garotos não trouxessem decepção mais à frente. Organizou um cronograma de atividades para dar sustância e musculatura aos rebentos, fazê-los homens com agá maiúsculo atendendo os anseios paternos. Aos seis anos já tinham que entrar para escolinha de futsal, com oito colocar o quimono do jiu-jitso e sunga mais toca para natação. Com dez academia de boxe e com quinze puxar ferro na musculação.
Júnior logo de começo, destacou-se no futsal (um craque, esse garoto) e aprendeu rápido as técnicas do jiu-jitsu. Camilo, um verdadeiro peixe na piscina e ficou um danado na esquiva, tanto que seu cruzado levava à lona oponente que não tivesse boa guarda.
Nem precisava contar que cresceram saudáveis e fortes como um búfalo marajoara. Ia me esquecendo do Roberto, o Betinho. Esse negou fogo. No futsal foi um vexame, chutava mal com direita e com a esquerda pior ainda; um desastre. Avesso à violência fugiu do boxe e do jiu- jitso (nem quimono vestiu). Natação até que dava umas braçadas, o suficiente para não morrer afogado. Enfim, Betinho foi crescendo educado e cheio das delicadezas, ao contrário os outros dois, uma dupla de brutamontes.
Navarro ficava todo amofinado com o jeito recatado do caçula. Muito delicado para o gosto dele, o pai. Não gostava de vê-lo cuidando de flores no jardim, ajudando a mãe na cozinha. Certa vez reclamou com Matilde: “Esse menino tá muito mimoso, acho que ele não gosta da fruta”. Ao que Dona Matilde retrucou: “Para com isso môr, é da idade, depois passa”. Só que o tempo foi passando...
Cresceram, vieram os momentos de “ficar” com as meninas. Cada fim de semana uma cabritinha diferente. Júnior e Camilo vangloriavam-se de suas conquistas cheias de ousadias e Navarro ficava muito orgulhoso dessas safadezas. Mas e Betinho? Nada, nada. Quando bateu nos vinte desconfiaram que o pobre ainda era virgem. Camilo provocava: “Acho que nosso irmão é mocinha. Não gosta de dar uns pegas nas meninas”. Ao que Júnior completava: “Betinho gosta mesmo de cuidar das florzinhas, parece uma borboleta”. Pronto, daquele dia em diante, naquela casa, só Dona Matide não chamava Betinho de Borboleta.
Tempos depois Júnior casou, Camilo também e cada um foi viver sua vidinha. Betinho ficou com os pais. Formou-se em contabilidade, arrumou emprego de contador numa multinacional. Seu Navarro reclamava: “Não vai casar, Borboleta?”. O rapaz respondia com silêncio. Levava sua vida cheia de meiguice. Saía religiosamente só aos sábados e quintas-feiras. Dia que seus irmãos se encontravam no bar do Tião Marreta e ficavam até tarde para tomar umas e outras. Ninguém sabia onde Betinho ia. Mas nosso dândi voltava cheio dos contentamentos.
Até que rolou um escândalo na família. Camilo descobriu conversa no WhatsApp da esposa com a cunhada. Tinham o mesmo amante. Pode? E as conversas? Eram do tipo: “Esse sim, delícia de homem, sabe fazer cada coisa!...
” A confusão foi grande. Macho que é macho não usa peruca de touro. Rolou até uns tabefes e as duas acabaram confessando que quando os maridos iam juntos tomar umas biritas, elas iam juntas também para as safadezas. Aperta daqui, aperta dali e as duas acabaram entregando com quem se encontravam para indecências. Adivinharam com quem? Com Betinho! Isso mesmo: Be-ti-nho!
Hoje em dia é bom desconfiar até das borboletas...