Onde os índios se esconderam, se enfurnaram para subsistir está sob chamas. Atingidos pela fornalha ambiental da poluição , ateada pelo desmatamento incontrolável ou por mãos incendiárias?
Num número antigo de dez anos da National Geografic revejo a melhor de suas reportagens a denunciar o avanço da intolerância sobre o que resta de nação indígena, na Amazônia. A maioria dos brasileiros nem está aí para essa coisa a seu ver de remotíssimo interesse – acentua a revista editada por gente de outra nacionalidade. Da pauta de uma revista estrangeira há quem veja, alarmada, que a Amazônia fica longe, muito longe dos particulares e públicos interesses brasileiros; é uma selva densa e pouco importa que seus remanescentes naturais se achem expostos à fúria devastadora dos madeireiros e mineradores ilegais.
No entanto, já houve quem muito se preocupasse com isso. A começar pelos forjadores da nossa República, os positivistas entre os quais se achava o santarritense Atistides Lobo, não se sabe por qual milagre com uma estátua ainda incólume no alto da praça que tem seu nome nesta nossa cidade. Avalia-se ter sido o movimento político-filosófico de resultados práticos com um catecismo ditando a prática das ações.
Quem ressalta soberbamente esse papel catequista dos positivistas é Alfredo Bosi num número velho de três anos da revista da ABL dedicado à amizade França-Brasil. Nele, é avaliada a influência da doutrina na campanha abolicionista. E avança mais: “O fim do regime escravo prende-se a um tópico nuclear da doutrina social- positivista: a incorporação do proletariado na sociedade moderna”.
Outro paraibano, José Maria dos Santos, já havia se antecipado nessa mesma avaliação, ao tratar do abolicionismo entre os fundadores do Partido Republicano Paulista.
Alfredo Bosi pinça esta frase, um achado: “O Apostolado sempre vinculou a abolição ao tema do trabalho, preocupando-se com o que chamava “proletariado nacional” e manifestando reservas à imigração em massa subsidiada pelo governo.”
E vem à tona a reação dos positivistas à balela preconceituosa de uma certa elite cultural que começou estigmatizando o índio como preguiçoso e terminou “alertando para o perigo da vagabundagem negra, caso o negro fosse liberto por lei”
A refutação a esse tipo de argumento “soa nossa contemporânea”- ressalta o ensaísta. E como ressoa.
Vem a pelo estas palavras de Miguel Lemos e Teixeira Mendes, apóstolos do positivismo, escritas antes da Abolição:
“Para desvanecer este tecido de sofismas importa reconhecer, em primeiro lugar, que a vagabundagem, a recusa ao trabalho, não é um vicio peculiar às classes pobres. A contemplação da sociedade demonstra não só que o maior número de vagabundos é fornecido pela burguesia, mas, ainda, que são esses os vagabundos mais prejudiciais. Porquanto os vadios que ela fornece dispõem de um capital que falta aos outros, e esses recursos os colocam em estado de lesar a sociedade por modos inacessíveis aos proletários”.
O cerrado que cerca Brasilia também está pegando fogo. Como lá se concentram as forças de segurança ficou mais fácil identificar a ação incendiária.