Bem aventurados os corajosos de plantão que seguem incontidos na emoção de uma nova experiência lúdica ou fugaz, para suas vidas, restando-lhes apenas enfileirar uma delas, na vez, oportunizada pela insistência.
Não devemos desistir de carregar a dor da reconstrução, ela é apenas a forma que se apresenta para dizer que a conta da vida continua aberta, em compasso de espera de suas novas decisões, mesmo que parcas e tímidas, porém, destemidas e insistentes, plantadas nesse fulgor de esperança, às margens do rio que ainda corre em nossas veias abertas.
Não deixemos o passado nos afortunar com acomodação e brevidade nos passos. Esse rumo desajeitado e torto espera uma atitude para consertá-lo e trazer sentido a isso tudo que passa, porque tudo passa, e nós que ficamos agora, somos os operários desse caminho que iluminará muitos, depois que aprontarmos tudo para utilizarem.
Não podemos esquecer que a vida não nos deve absolutamente nada, mas apenas espera a nossa escolha, seja ela a próxima tentativa ou a primeira de tantas, ou que talvez nos pareça a última na lousa, a aguardar nossa assinatura como titulares dessa obra.
Façamos um acerto de contas com a vida, um sub total, porque ainda estamos vivos, da maneira possível, e seguindo à busca de respirar mais leve, com um pouco de lágrimas e suor rasgado nesse corpo batido pelo tempo e surrado pelas ideias.
Algumas não deram em nada, outras tantas desenharam uma estrada que nos deixou nesse paradouro, para tirar umas fotos com alguém, ou sozinhos, olhando para o nada, que também não responde, mas segue a espera de um desbravador, um aventureiro de calçadas sobrevividas de tanto pisar, marcadas por trilhos singulares, e outros nem tanto, que foram pintados de destino, desenhados por artistas que teimam enxergar um paraíso naquele túnel sem fim que é o nosso futuro.
Estamos a busca de vida aos dias e não de apenas dias às nossas vidas, como lembrou com inteligência o Apóstolo Paulo: "Tudo posso, mas nem tudo me convém". Ao tentarmos cruzar tal fronteira, limitada à nossa carência — que se mantém resguardada, não por pastores alemães e muros encimados de arame farpado, mas pela névoa espessa dos paradoxos de que somos feitos —, descobrimos, trêmulos, que também somos sentinelas de nós mesmos. Que atire a primeira pedra quem nunca se esconde de si.
Se você pudesse olhar para o espelho sem a máscara que criou, quem você enxergaria?