Tem crescido o número de pessoas que se submetem a procedimentos estéticos. Segundo li em matéria divulgada pela Internet, “no Brasil houve um aumento de 390% na procura por esses procedimentos no primeiro trimestre de 2022, em comparação com o mesmo período do ano anterior”. Retirada de gordura, preenchimento facial ou mesmo a tradicional plástica são comuns nos que querem melhorar o seu aspecto físico.
Recentemente morreu Alain Delon, um dos ícones modernos da beleza masculina. A mídia fez questão de confrontar sua imagem de hoje com a do jovem que há algumas décadas fazia as garotas suspirarem. Desse confronto emergia a dura percepção do que o tempo faz ao corpo, roubando-lhe o prumo, o viço, a esbeltez que ele ostenta nas primeiras décadas de vida.
Bilac escreveu que a velhice é coisa vil — lembra Rubem Braga em uma de suas crônicas. “Vil” quer dizer “desprezível”, um adjetivo forte e talvez injusto, mas que muitos usam sem hesitação nem pejo para qualificar esse delicado momento da vida.
Hoje o comum é se insurgir contra as transformações determinadas pela velhice. Se existem alternativas, por que aceitar as rugas, estrias e outras marcas que ela traz? Não é melhor submeter o corpo aos reparos que, com o dispêndio de uma boa grana, podem lhe dar um aspecto de novo juvenil?
Tudo seria simples e gratificante se a Natureza propiciasse esse tipo de reversão. Apesar de filosoficamente se falar em “eterno retorno”, a verdade é que o tempo não nos permite retroceder. No mais das vezes, os estratagemas com que procuramos nos furtar ao seu fluxo terminam por se voltar contra nós. Piorando, por exemplo, o aspecto que se queria esconder. Ou ironicamente antecipando o fim, como ocorre nos acidentes letais que vemos hoje em mesas e leitos de cirurgias estéticas.