Quando a Primavera troca a roupagem da terra, durante as noites, regando as flores com sua aragem, é tempo de reconstruir sonhos.
Em 1954, a Primavera festejou o amanhecer com as roseiras, os cajueiros, as mangueiras, os ipês, os flamboyants e os mulungus floridos ao redor da casa. A cada ano, as floradas se renovavam, até no meu entardecer.
Primavera é período propício para caminhar sem pressa, o ambiente ideal para a mão estendida, o olhar carinhoso, o abraço de reconciliação.
Sandra Vidal
Contemplo a praia na espera da Primavera, vejo uma vaga espuma galgar a encosta de Tabatinga, quando meu pensamento se volta para Sofia, sabendo que ela contempla sozinha o pôr do sol de sua infância.
Desde 1954, nesse período do ano, impregnado do aroma da terra fresca coroada de verde, escutando as vozes das árvores e o xuá-xuá da água nos córregos como suspiros primaveris, carrego a Primavera comigo.
Há pouco tempo, a terra se escancarou para absorver os pingos das últimas chuvas de agosto que umedeceram os recantos do nosso jardim imaginário, dando maior colorido a essa estação do ano. No sopé das encostas e nos montes, existem as mangueiras, os ipês, os cajueiros floridos. A eles se juntam os flamboyants que desfolham pétalas avermelhadas.
MAndrade
Nada na Primavera supere a Musa no banho de mar ou o pôr do sol, para depois escutar Bach , lembrando-me desses momentos.
Primavera é poesia, silenciosa e translúcida, estação carregada do silêncio das plantações, dos córregos, na fronte das montanhas floridas, nos fluxos oferecidos pelo mar, tudo que, ao seu tempo e lugar, moveria Strauss, a captar vozes silentes para suas canções. O som dos aparelhos eletrônicos afasta muitos do contato com a Natureza.
Deixemo-nos impregnar pelo aroma da terra fresca coroada de verde.
Na Primavera a terra abre sua alma e sorri quando os últimos respingos da chuva umedecem a relva nas madrugadas. Os dias são mais risonhos, renascem esplêndidos, com seus suspiros, e a leve ventania ao contemplar o pôr do sol.
Crepúsculo em Pirauá, Natuba (PB) Sandra Vidal
Silenciosos, escutaremos as canções de Tchaikovsky, de Strauss, de Bach ; o canto das cigarras, dos pássaros, lembrando-nos das mulheres que se banham no mar.