O editorial de Le Figaro , de hoje, dia 21 de agosto de 2024, intitula-se Jeu des dupes , algo como Jogo de burlas. Título bem sint...

Titanic governamental

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O editorial de Le Figaro, de hoje, dia 21 de agosto de 2024, intitula-se Jeu des dupes, algo como Jogo de burlas. Título bem sintomático, que revela a situação atual da França, presa a um “teatro de sombras chinesas” (théâtre d’ombres chinoises) que, se não tivesse em jogo o futuro do país, poderia ser interessante e divertido. Mas não é. As sombras só mostram a situação obscura em que a Gália de Astérix se encontra afundada, situação que não era nova, mas que foi revelada com a decisão tresloucada da antecipação das eleições legislativas do último mês de julho.

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Emmanuel MacronStephane Mahe
Emmanuel Macron, que, à revelia de seu nome, mostra-se sempre micron, tentou um golpe de mestre, na tentativa de reaver o controle do país, entregando os anéis, não para não perder os dedos, mas pensando em repô-los, com uma vitória massiva que o fortalecesse. Não aconteceu. Ele não contava com a síndrome do Jânio Quadros. Não renunciou, mas deveria, de acordo com os analistas. A vitória da esquerda não aconteceu, embora tenha sido cantada por aqui, em flagrante deturpação da verdade. Houve, com efeito, um avanço da direita, que os extremistas de esquerda sempre chamam de extrema-direita. Que o diga Jean-Luc Mélenchon, que em nenhum lugar do mundo é o que pode se chamar de moderado. Na tragédia, isto tem nome, peripécia, uma ação que tem um resultado contrário ao que se esperava.

O fato é que a desastrada canetada monocrática de Macron deu errado e o país mais do que parado, se encontra afundando. As dificuldades que existiam estão cada vez maiores. Citando textualmente Le Figaro, são elas: equilíbrio orçamentário, crise de moradia, luta contra a imigração ilegal, reindustrialização, suporte às escolas e hospitais,
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transição ecológica. Aumentaram as dificuldades, porque, sustenta Jim Jarrassé, que escreveu o editorial, a realidade é bem diferente da ilusão. As ilusões podem ser resolvidas com canetadas e palavreado fácil, coisas tão comuns em ditaduras e governos populistas, mas a realidade é dura e só se resolve com trabalho sério e descontentamento dos apaniguados.

A ilusão, que vai levando a França a posições ainda mais fundas e sombrias, continua a ser praticada com “pactos sem amanhã” ou que não sobrevivem à manhã seguinte (des pactes sans lendemain), num jogo de fingimento por parte dos partidos, o que assegura veracidade do título do editorial. Nada existe, no entanto, de concreto que possa assegurar ao cidadão uma esperança de melhoria no seu país, nem que seja a longo prazo.

Quanto às esquerdas que se reuniram – coisa admirável! –, para conter o avanço da direita, o que não conseguiram, mostram, agora, a sua face, com Mélenchon oscilando entre uma proposta de coabitação com Macron, mas desejando impor um primeiro-ministro – o atual, Gabriel Attal tem sete meses no cargo –, de modo a emplacar
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DGA
a sua candidata Lucie Castets. Isto é apenas o começo. O desejo de Mélenchon é a deposição de Macron, já tendo sido ventilado, ao menos, o termo impeachment.

No meio desse imbróglio, Macron não tem sossego, porque nem governa, nem tem a decência de deixar o poder. A situação da França é, como diz o editorial, a de um “Titanic governamental” (Titanic gouvernemental), no qual nenhum político de sã consciência quer embarcar. Se Macron resiste, ele afunda; se o extremo Mélenchon ganha o poder, afunda. O iceberg está, a um só tempo, na falta de força e na força extrema.

Finaliza Jim Jerassé, o seu editorial dizendo que “o nosso país (o deles... Atenção, não confundam as coisas!) precisa de um governo. E rápido” (Notre pays a besoin d’un gouvernement. Et vite). Já há 38 dias sem governo, desde a malfadada antecipação das eleições legislativas, a França, a gloriosa França de De Gaulle, é vítima da fraqueza de um governo que não sabe o que fazer.

É aqui que entra o nosso Camões - Um fraco rei faz fraca a forte gente.

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  1. Quando você coloca que o país precisa urgentemente de governo, tomei um susto. Depois foi que vi que está se referindo ao país de Micron

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  2. Professor Milton, obrigado por responder os comentários dos leitores. E parabéns pelo texto!!!

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