Começo sempre pela Avenida Paulista – símbolo da nossa maior cidade, onde a força da grana destrói coisas belas. Uma flor lilás aqui en...

São Paulo & Tanto Tanto

sao paulo viagem ipe roxo
Começo sempre pela Avenida Paulista – símbolo da nossa maior cidade, onde a força da grana destrói coisas belas. Uma flor lilás aqui enfronhada num prédio cinza e pujante, mas tudo contrasta com tanta pobreza ao relento. Nada mais doído do que numa avenida dessas, cheia de lojas, de apelos, de livrarias, hotéis, e o povo na rua. Tendas, cachorros, pedintes, e cobertores rasgados para o frio da noite. Eu que adoro frio com céu azul, não dava para aproveitar diante daquela paisagem triste.

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Avenida Paulista (SP) Mark Hillary
Sigo pela Estação da Luz – sempre um impacto. E todo aquele conjunto de arquitetura de trilhos, trens, movimento de gente. E a Pinacoteca em frente, com Lygia Clark anunciada. O Museu da Língua Portuguesa do lado. E a Sala São Paulo, onde fui assistir a um Concerto de Maurice Ravel. Estupendo? Seria o adjetivo? Todos aqueles músicos e mais uma harpa dedilhada e um coral uníssono? A arquitetura do lugar não me deixava abaixar a cabeça para os violinos.

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Sala São Paulo (SP) Acervo da autora
Mas foi durante o dia que, junto com a amiga paraibana, também escritora, Marta Pessoa, batemos pernas pelas ruas do Bom Retiro, por entre lojas e promoções, para findar num restaurante coreano raiz, e experimentar as delícias do Kimchi e os repolhos fermentados. Mas, com Marta não ficamos só no oriente. O bairro de Pinheiros, que conheci ainda tão simples nos anos 70, 80, e até outro dia, hoje é um bairro cult, cheio de lugares e gostos. Comer, beber e rezar. E findar com um sorvete. E umas passeadas pela Vila Madalena numa loja de nome Grandestino. Pelo nome já podemos imaginar...

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Ana Adelaide e Marta Pessoa / Restaurante Kimchi (SP) Acervo da autora
Uma noite e uma peça de teatro – Ficções, uma adaptação do diretor Rodrigo Portella para o livro Sapiens, Uma Breve História da Humanidade, de Yuval Noah Harari, com a atriz Vera Holtz. Vera, com a sua verve engraçada e irônica, dominava tudo. Texto, cenário e as encruzilhadas do milênio. Encantada fiquei com o prédio da Faap. Vitrais, imponência, Beleza. E de quebra a entrada da exposição de imersão na obra do surrealista Salvador Dali.

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Faap
Mas uma ida ao cinema é certa. No Reserva Cultural – Testamento, de Denis Arcand. Como esquecer do filme, As invasões bárbaras? No Testamento o tema é a solidão e o desencantamento da velhice. Triste. Mas damos boas gargalhadas com a corrida de todos pelo veganismo, mastigação correta, exercícios infindáveis e a busca insana pelo corpo e saúde que nem sempre vem.

Por entre a feira livre do bairro onde mora meu filho Daniel e sua companheira Bruna, fico sempre em estado de epifania com as touceiras de escarola, de agrião, a grossura e suculência dos nabos, os rabanetes, que mais parecem jambos, mas ácidos e cheios de sumo, os figos frescos, baratos e docinhos. Para mais tarde, tacar um queijinho azul por cima e uma taça de vinho. E um pastel típico com caldo de cana, claro.

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Bruna e Daniel Peixoto (SP) Acervo da autora
Por outro dia também tivemos pizza na Pizzaria do Brás, ou japonês, com lanterninhas e bolinhos de arroz com polvo, galeto com polenta frita, ou simplesmente ficar em casa assistindo às Olimpíadas. Que tanta coisa linda e original ao som de Celine Dion. O Sena, a Torre Eiffel, a moda, o cinema, as comidas, Lady Gaga, o croissant, e todas as polêmicas por conta do que se achou desrespeitoso sem nem se darem conta dos Dionisios, dos Bacos, e dos desconhecimentos das artes e tudo mais que a França pode nos oferecer naquela magistral abertura.


Rita Lee, virou data especial pela sua cidade que, a homenageia pelos cantos das avenidas. A Praça Benedito Calixto volta às suas cores. E o samba foi na Casa de Francisca. Essa casa centenária que junta gente e rodas de samba e mais polvo à vinagrete. Tive uma certa melancolia no meio daquele movimento. Uma sensação de que, o meu tempo passou. O envelhecimento para algumas das coisas que mais amava, como dançar na multidão. O alvoroço das ruas já não me encanta. Nessa vida, tudo passa.

Teve lua cheia, névoa densa, serração, para pensar no tempo e nas saudades de Murilo, meu cunhado, que tanto me apresentava a cidade, a cada vez que eu chegava na sua casa,
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Ana Adelaide e Murilo Jardelino
Acervo da autora
fosse em Perdizes, Higienópolis ou na Lapa. Os chocolates Dengo comi, Murilo. Aquele, de tapioca com limão siciliano. Em sua homenagem.

Nas bancas de Revistas, me esbaldei em comprar jornais impressos, mas agora não temos mais as programações culturais como antigamente. Tudo por área. E eu a me descabelar em querer ver tudo. Agora tenho a calma dos dias. Nenhuma ansiedade para nada. Mas visitei a Livraria da Vila, nova loja da Paulista, e comprei para Luísa, minha neta, um livrinho infantil da Bell Hooks.

Visitar o Masp é sempre um acontecimento. Ainda mais uma exposição do irlandês Francis Bacon – A beleza da carne, e toda aquela explosão dos corpos, dos quartos dos hotéis, do erótico da sua vida pessoal, dos amigos e da vida boêmia e cultural de Londres. Pinturas essas arrebatadoras que ele revolucionou na forma de pintar a figura humana.

Uma serpentina de voltas por entre as coisas boas que São Paulo oferece. Céu azul e os ipês roxos floridos.

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MASP / Livraria da Vila (SP) Acervo da autora

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