O local: Avenida Nossa Senhora de Copacabana, bem próxi mo a um famoso e tradicional hotel. Passava um pouco de 11h30. O andar apressado e indiferente reproduzia, por medo, por culpa, por indiferença, qualquer outro dia em que se manipulam valores e se esquecem de nossos verdadeiros pássaros.
Sabe-se muito bem que o pronome Nós é mil vezes mais importante do que o Eu.
Laura Rieusset
– Me dá uma quentiiinha!
– Me dá uma quentiiinha!
– Me dá uma quentinha...
Ao aproximar-me, acrescentou o tratamento já tão tradicio nal (e cujos significados são tantos):
– Tia, não sou ladrão. Me dá uma quentinha?
Eu ia fazer apenas um lanche, na luta diária de minhas aulas particulares, além dos locais em que leciono.
Entrei, pedi um misto. A seguir, disse ao gerente:
– Por favor, quero uma quentinha para aquele menino, que, esquivo, colocara um dos pés dentro do estabelecimento. – Ele não pode ficar aqui!
Tiểu Bảo Trương
– Não posso! Ele que entre e coloque depressa!
Como um raio, já o vi na fila, com todas as pessoas a olhá-lo. Não tardou, ele colocava a comida. E colocava e colocava... Meu Deus, era uma montanha. Pensei, será que eu tenho dinheiro para isso? Ao mesmo tempo, divertia-me com a sua desenvoltura. Pesou e saiu, sem se esquecer de agradecer com seu famoso 'tia', seu sorriso incompleto e um olhar profundamente marcado pelas feridas sociais e humanas.
Rápido, terminei meu lanche e, satisfeito, mas ainda reclamando, o gerente recebeu o pagamento (muito mais do que eu pretendia gastar comigo). Isso era o que menos me interessava. Queria ver se ainda encontrava aquele pobre pássaro da cidade, saboreando sua refeição.
Kev
Aqueles pássaros pouco, certamente, irão voar. Porém, há tantos ainda nos ramos verdes das árvores.