Nas corridas de revezamento com obstáculos, os participantes correm em turnos, sempre passando o bastão para o próximo corredor da sua equipe. Nessas provas, os trechos sem obstáculos são críticos para se ganhar velocidade e recuperar o tempo perdido durante a superação das barreiras. Essas etapas sem traves são oportunidades para os corredores usarem a sua técnica de corrida para avançar rapidamente, mantendo um ritmo forte e constante.
De modo análogo, devemos aproveitar os bons tempos para agir de forma produtiva e útil na causa do bem comum, fazendo felizes também os outros. A lição da prova de obstáculos pode ser aproveitada para o percurso da vida. É uma dádiva a percepção que leva alguém a viver com consciência, responsabilidade e plenitude tanto os momentos de alegria quanto os de dificuldade.
Há uma tendência a se buscar a renovação de hábitos e de propósitos de vida somente nos períodos de adversidade, enquanto nos momentos de paz e de satisfação há uma entrega ao desajuste, aos excessos e ao desagrado. O comportamento humano parece emular o fenômeno corporal da homeostase. Em tempos de facilidade, com suas necessidades físicas e emocionais atendidas, o indivíduo é levado a uma sensação de autocomplacência e de prostração. Sem desafios, não sente a necessidade de se esforçar ou de se desenvolver, comportando-se de forma individualista e autocentrada, apenas em busca de prazeres e de satisfações imediatas.
Em geral, são nos períodos difíceis que exercitamos a paciência, desenvolvemos a confiança nos desígnios superiores e nos comprometemos com planos de trabalho e de dedicação aos outros. As dificuldades nos tornam mais compassivos e sensíveis às necessidades alheias, inspirando generosidade, brandura e afabilidade. Nessas fases, é comum o cultivo de emoções superiores e o fortalecimento dos laços de simpatia e de empatia com o próximo.
Em tempos de bonança, no entanto, é comum a queda na armadilha da insatisfação, da intolerância e da arrogância. Em vez de manter a serenidade e a confiança adquiridas nas adversidades, tornamo-nos impacientes, azedos e revoltados. Falhamos em continuar a prática da gratidão, em manter nossos votos de trabalho e em seguir os planos benevolentes que nos comprometemos nos momentos de aflição.
O verdadeiro compromisso com o bem consiste em ser constante nas boas ações, independentemente das circunstâncias externas. Os momentos de alegria e de paz são oportunidades valiosas para consolidar as virtudes que foram exercitadas nas fases difíceis. Nos períodos favoráveis devemos consolidar a nossa confiança em Deus, a nossa generosidade e a nossa disposição para servir aos outros. É essencial estar preparado para acolher esses momentos favoráveis com gratidão e aproveitá-los para continuar a prática do bem e da virtude.
Benditos são todos aqueles que aproveitam as circunstâncias favoráveis e as condições de contentamento e de bem-estar para progredirem, tornando-se ainda mais úteis. Albert Schweitzer nos lembra que "a única coisa importante na vida são as pegadas de amor que deixamos para trás quando partimos."