Lembrem; na última semana comecei a contar a história de Josias, que de policial em São Paulo passou a ladrão de automóveis, foi preso, fugiu da cadeia, falsificou um diploma de bacharel em Direito, foi aprovado num concurso para Juiz no Acre, encheu o saco, deixou a toga, fez concurso para Delegado de polícia em Santa Catarina e na cidade de Tubarão onde foi lotado esquentava carros roubados em São Paulo. Ufa; que resumo, hem?
Pois muito bem; apesar de haver uma condenação e mandado de prisão aberto contra ele em São Paulo, ninguém lhe perturbava em Santa Catarina, onde era amigo pessoal do Secretário de Segurança. Afinal, a internet ainda não existia à época.
Mas tudo que é bom um dia acaba. Ocorreu que dois policiais haviam montado uma campana para vigiar um sobrado geminado na zona norte da capital paulista onde morava um bandido. Infrutífera a espera, eles voltaram à Delegacia onde foram procurados por uma loura que reclamou de um deles porque estaria escondido em frente a sua casa esperando pelo seu marido, foragido da cadeia.
Ora, a casa objeto da campana era a outra, geminada, e os policiais entenderam que em ambas as casas moravam bandidos que não se conheciam. Propuseram à galega que avisasse quando o vizinho chegasse em casa, o que ela fez dias depois. Prenderam o meliante e ele confessou que furtava carros em São Paulo e os levava para a cidade de Tubarão, em Santa Catarina, onde o Delegado “esquentava” os veículos. Haviam descoberto Josias e seu esquema.
Só que o Secretário de Segurança de São Paulo era o Professor Hely Lopes Meirelles, jurista respeitado e respeitador dos trâmites legais, que se limitou a enviar ofício ao seu colega de Santa Catarina com o histórico de Josias. Porém o Secretário de Segurança catarinense era amicíssimo de Josias e não acreditou naquilo. Revoltados, os dois policiais embarcaram numa Rural Willys e chegaram à Delegacia de Tubarão armados com uma máquina fotográfica e um tripé, apresentando-se como jornalistas a fim de entrevistarem o famoso Delegado, que os acolheu em seu gabinete.
Lá dentro deram voz de prisão ao bandido e para que ninguém o visse saindo algemado baixaram suas calças e amarraram em sua perna esquerda o tripé, de modo que ele ficou impossibilitado de correr. Trouxeram o marginal até a Casa de Detenção em São Paulo onde cumpriu sua pena com comportamento exemplar, dando expediente na biblioteca onde atendia presos e guardas, impetrando com sucesso muitos habeas-corpus. Legalmente livre, passou a frequentar diariamente o Tribunal de Justiça onde por muito tempo prestou consultoria a advogados que o procuravam.
E enfim enriqueceu...honestamente.