O Colégio Estadual da Prata de Campina Grande, oficialmente Colégio Estadual Dr. Elpídio de Almeida, é o segundo maior colégio oficial da Paraíba. Foi fundado em 1953 no governo de José Américo e completou o ano passado 70 anos. Era frequentado por alunos e alunas que depois se tornaram artistas, políticos, médicos e engenheiros renomados. Tinha em seus quadros os melhores
professores da cidade. Ensinar no Gigantão da Prata, como era chamado, constituía privilégio para poucos. Por lá passaram professores como Elizabeth Marinheiro, Francisca Neuma Fechine Borges, Sevy Nunes, Francisco Celestino e muitos outros. José Elias Borges lecionava inglês, Padre Emídio Viana, Latim, Sevy Nunes, Francês, Gabriel Agra, Português. Os melhores alunos do curso de engenharia da Escola Politécnica eram convocados para dar aulas de Matemática, de Física ou Química. Os médicos ministravam Biologia, como Dr. João de Assis. Advogados, juízes e promotores davam aulas de Moral e Cívica e de Organização Social e Política Brasileira.
O professor Raimundo Suassuna, responsável pela disciplina de História, levava o filho caçula Alan Suassuna para suas aulas para que o filho demonstrasse seus conhecimentos nessa área. Com o exemplo em casa, Alan era detentor de muitas informações históricas, partiu muito cedo, mas desde criança revelava ter boa memória e inclinação para as Artes. Todos os filhos do professor Suassuna estudaram no Colégio Estadual da Prata. Era um modelo de bom colégio.
É possível citar alguns alunos que se tornaram bem conhecidos anos depois, como a cantora Elba Ramalho, o jornalista José Nêumanne Pinto, o poeta e político Ronaldo Cunha Lima, a deputada federal Luiza Erundina, o historiador Vanderley de Brito.o deputado federal Damião Feliciano, o cantor Capilé, o jurista Agnello Amorim, o poeta e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho, a professora e jornalista Tereza Madalena, a professora Maria do Socorro Aragão. Não fui colega desses ilustres campinenses e de outros que vieram de cidades do interior estudar em Campina Grande porque fiz o ensino médio no Colégio Alfredo Dantas, mas, na década de 70 (1973/1975), fui professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, tendo substituído a professora Neuma Fechine. Terminei o curso de Letras em 1972 e em 1973 fui convocada para substituir Neuma que tinha feito a opção para lecionar no curso de Letras da antiga FURNE. Fui aluna de Neuma no curso de Letras, monitora de Literatura Portuguesa e cheguei a substituí-la algumas vezes quando viajava para fazer cursos em Portugal. Tinha sido boa aluna e fui considerada apta para substituí-la.
Desse período guardo boas recordações. Foi um tempo de muito aprendizado, de bons contatos com os alunos. Lecionava no período noturno e quase todos (as) alunos (as) trabalhavam durante o dia, era necessário muita motivação para mantê-los atentos durante o período das aulas. Foi necessário usar a criatividade e investir em arte, música e literatura. Na segunda-feira, instituí o dia da redação e o resumo das principais notícias publicadas no Diário da Borborema. O aluno José de Sousa trabalhava no escritório de advocacia de Dr. Nestor Alves de Melo Filho que depois foi desembargador e Presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba (2000/2002). Ele era assinante da revista Veja e José de Sousa ficou com missão de resumir ler as noticias mais relevantes da citada revista e repassá-las para os colegas de sala de aula.
A última aula da semana era dedicada à poesia e à música. Ouvíamos e analisávamos músicas de Chico Buarque e Caetano Veloso. Os poemas dramáticos de Drummond, Cecília Meireles e Manuel Bandeira eram teatralizados e as noites se tornavam mais agradáveis. Muitas vezes colocava uma música baixinha por ocasião das representações teatrais, ficava como uma espécie de música de fundo.
Além do aluno José de Sousa, lembro-me de Cosme, um aluno brilhante e de Lavoisier, este último frequentava minha casa e me pedia livros emprestados para leitura extra classe. Havia algumas moças que se destacavam nas redações literárias, mas não consigo me recordar de seus nomes. Certa vez levei a crônica O Cajueiro, de Rubem Braga, para motivá-los a escrever um texto saudosista como o do cronista, e uma aluna escreveu uma crônica belíssima que descrevia um pé de maracujá que nascera no quintal de sua casa. Uma crônica de Chico Maria, publicada no Diário da Borborema, Eu era menino e olhava a vida foi outra fonte de inspiração para nova redação.
Não sei se consegui despertar o gosto pelo literário, houve esforço, tentativas e receptividade. Em 1975 deixei de lecionar no Colégio da Prata por motivo de transferência para Maceió. Na despedida, uma turma me presenteou com um long play de Chico Buarque. Retornei a Campina Grande em 1982 após concurso para lecionar Teoria Literária e Literatura Portuguesa na UFPB, campus II. Em 1985, transferi-me para João Pessoa, Campus I, e aqui me aposentei. A partir de 1982 fui sempre professora de literatura, a literatura infantil surgiu ainda quando lecionava em Campina Grande na UFPB e tem me acompanhado até hoje. Costumo dizer que a literatura sempre foi uma paixão da vida inteira.