Três ícones marcaram o cinema francês e mundial na segunda metade do século passado, talvez para sempre. A rigor, dominaram a cena na...

O bonito, o feio e a sensual

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Três ícones marcaram o cinema francês e mundial na segunda metade do século passado, talvez para sempre. A rigor, dominaram a cena nas décadas de 1950, 1960 e 1970. São eles Alain Delon, o bonito, Jean Paul Belmondo, o feio, e Brigitte Bardot, a sensual (e também linda, mas não agora, claro). Quanto a isso, creio que ninguém discordará, cinéfilo ou não. São figuras célebres que ocuparam o imaginário popular ao seu tempo, em torno das quais e sobre as quais foram criadas mitologias, verdadeiras ou não. Para usar a feliz expressão do presidente Macron, os três são “monumentos franceses” indiscutíveis. Autênticas unanimidades. Alguém contesta?

Hulton Arch.
Primeiro partiu Belmondo, há três anos. Agora, foi a vez de Delon. E resta Bardot, recolhida em seu refúgio, longe do mundo, a cuidar de seus animais, nonagenária. A nós, contemporâneos setentões, coube assistir o apogeu e o declínio desses ídolos da sétima arte imortal. Privilégio dos longevos? Sim, sem dúvida. Mas privilégio com uma pitada de maldição, pois dói testemunhar o desaparecimento de personagens que nos marcaram tão profundamente, de uma forma ou de outra. É como presenciar, impotentes e nostálgicos, o gradativo escoamento, pelo ralo da vida, de nossa história pessoal e coletiva. É a constatação, dolorosa, de que também estamos, uns mais outros menos, próximos do baixar das cortinas, do “the end” incontornável.

No seu auge, Delon foi por muitos considerado o homem mais belo do mundo. E de fato ele era formidável desse ponto de vista. Até os machões empedernidos reconheciam aquela beleza evidente. Uma beleza viril, diga-se de passagem, sem margem para qualquer dúvida sobre a masculinidade do ator. Uma masculinidade muito exercitada pelo conquistador inveterado que ele foi. Mas, justiça seja feita, não viveu ele apenas da beleza. Esta, digamos, foi apenas um detalhe (importante detalhe, reconheço) em sua vitoriosa carreira cinematográfica, na qual se impôs seu talento na arte de interpretar. Fosse somente um rostinho bonito, como tantos e tantas,
Imdb
e seu nome não resistiria ao crivo da posteridade, esse juiz implacável e quase sempre correto.

Permita-me o leitor aproveitar o ensejo para repetir uma historinha com sabor de fofoca e maledicência, a qual, se verdadeira, serviu e serve para lavar a alma de muitos marmanjos. Refiro-me ao “não” que Delon levou, no Rio de Janeiro, de uma linda modelo brasileira com quem dançou embevecido a noite inteira na então badalada boate Regine’s. Ele pensou que ela estava no papo, quando foram “esticar”, madrugada alta, no apartamento de um amigo do ator. Mas não. Surpreendentemente, ela o deixou a ver navios, completamente frustrado e atônito com a inabitual recusa, que tanto deve ter ofendido seus brios de galã irresistível. O nome dessa heroína (ou dessa maluca, como queiram) é Fernanda Bruni. E a razão de seu “não” histórico foi absolutamente singela e edificante: ela estava apaixonado pelo namorado e não quis traí-lo. Mesmo com Alain Delon. Bravíssimo!

Li que seus últimos meses foram melancólicos. Já não havia nenhuma alegria de viver. Suas fotos derradeiras mostram isso. Um ar de enfado com a existência que nem as recentes homenagens conseguiram abrandar. A luz se apagara. Chegara a hora da cena final. O filme de sua vida terminara.


Já Belmondo era o que se chama de “feio charmoso”. Sem ser exatamente bonito, fez muito sucesso com as mulheres, o que serve de consolo e de esperança para muitos. Estourou em 1960, com o filme Acossado, dirigido por Jean-Luc Godart, e daí para a frente foram mais de oitenta produções, que terminaram por consagrá-lo, junto com Delon, como um dos maiores artistas franceses do século XX.

E sobre a Bardot, o que dizer? Só poderá falar quem foi jovem nos anos 1950, 1960 e 1970, época em que a deusa reinou, absoluta, nas fantasias eróticas de meio mundo. Que lourinha linda e sensual a França nos deu de presente, ao irrisório preço de uma entrada de cinema.
Fonte: DiscoGS
Não sei se acertarei ao afirmar que foi ela a primeira a romper, nas telas, com sua então audaciosa nudez, o conservadorismo vigente, tão repressor da sensualidade, essa força incontrolável da natureza. Se não foi, certamente está entre as primeiras. E que sorte a nossa, adolescentes e jovens daquela época, por termos tido a “inocência” roubada por alguém tão especial. Ah, Brigitte, quantos pecados solitários nos fizeste cometer! Pertencias simultaneamente ao teu eventual marido (foram vários) e aos milhões de fãs ao redor do planeta, fenômeno pop avassalador. Em ti Deus criou a mulher-rainha de tantos paraísos particulares. E não inspiraste apenas os rapazes, pois às mocinhas mostraste o caminho da libertação de todas as culpas inventadas nos colégios de freiras.

Mas o tempo passou para todo mundo: nós e ela. Recusando plásticas e procedimentos mil, a deusa entregou, deliberadamente, ano a ano, seu rosto lindo às rugas inevitáveis. Despiu-se da vaidade feminina e optou pela verdade do tempo, aquela da qual não se foge, mesmo que sob os ilusórios milagres operados por Pitanguis e companhia. E, simultaneamente, acolheu os animais, os próximos e os distantes, como um nobre ideal ao qual dedicar o seu assumido crepúsculo.

Fund. BB
Se uma palavra pode resumir o que a minha geração deve a estes três “monumentos franceses”, esta palavra é gratidão, palavra-tudo, como disse Drummond. A eles, todos os tributos que merecem, por tudo que nos legaram, nas telas e fora delas, de fantasia e encanto.

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  1. Enchanté, M’sieur Gil!

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  2. José Mário Espínola

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  3. Seu texto me fez lembrar de muitos filmes adoráveis com esses três atores que encheram meu mundo de fantasias e sonhos. Aprendi a amar o cinema com meu pai , Aurélio Augusto de Carvalho. Ele era primo de Geraldo Carvalho e lá em Jaguaribe eu ouvia calada as discussões sobre cinema. Ainda era jovem e inexperiente. Anos depois, descobri a importância desses encontros quando passei a amar o cinema . Grata pelo seu texto e ao primo Geraldo Carvalho por ter despertado em mim esse amor . 👏🏻👏🏻👏🏻♥️

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  4. O comentário acima é de Denise Carvalho.

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  5. Obrigado, José Mário.

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  6. Obrigado, Denise.

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  7. E nós somos gratos por todos os seus textos, Gil. Abraço e excelente semana!

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  8. Obrigado, Raniery.

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  9. Obrigado, Léo.

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  10. Olá, Gil.
    Parabéns pelo texto... nostálgico e, ao mesmo tempo, moderno e informativo.
    O trabalho de Brigitte Bardot em defesa da causa animal é admirável.
    Na década de 1970, quando as estrelas se preocupavam em manter suas carreiras e seus bonitinhos, com muita base e bisturi, ela foi na direção oposta, colocando a mão na massa com atitudes louváveis, e confrontando políticos e empresários poderosos no descaso com os bichos.
    Parabéns, também, Gil, por sempre responder aos comentários dos leitores, em uma interação marcada pela elegância.

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  11. Obrigado pelo comentário acima.

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  12. Obrigado, Sérgio.

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  13. Obrigado, Paiva.

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  14. Interessante texto sobre essas personalidades cinematográficas, bem acompanhadas por várias gerações. Parabéns Gil. Fátima Farias

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  15. Bardot, Deneuve e Loren! Três musas!

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  16. Laura Berquó29/8/24 22:39

    Antigamente as pessoas eram mais bonitas e charmosas mesmo.

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  17. Anônimo1/9/24 20:05

    Obrigado, Frutuoso.

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  18. Anônimo1/9/24 20:06

    Obrigado, Fátima.

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  19. Anônimo1/9/24 20:06

    Obrigado, Laura.

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