Três ícones marcaram o cinema francês e mundial na segunda metade do século passado, talvez para sempre. A rigor, dominaram a cena nas décadas de 1950, 1960 e 1970. São eles Alain Delon, o bonito, Jean Paul Belmondo, o feio, e Brigitte Bardot, a sensual (e também linda, mas não agora, claro). Quanto a isso, creio que ninguém discordará, cinéfilo ou não. São figuras célebres que ocuparam o imaginário popular ao seu tempo, em torno das quais e sobre as quais foram criadas mitologias, verdadeiras ou não. Para usar a feliz expressão do presidente Macron, os três são “monumentos franceses” indiscutíveis. Autênticas unanimidades. Alguém contesta?
Hulton Arch.
No seu auge, Delon foi por muitos considerado o homem mais belo do mundo. E de fato ele era formidável desse ponto de vista. Até os machões empedernidos reconheciam aquela beleza evidente. Uma beleza viril, diga-se de passagem, sem margem para qualquer dúvida sobre a masculinidade do ator. Uma masculinidade muito exercitada pelo conquistador inveterado que ele foi. Mas, justiça seja feita, não viveu ele apenas da beleza. Esta, digamos, foi apenas um detalhe (importante detalhe, reconheço) em sua vitoriosa carreira cinematográfica, na qual se impôs seu talento na arte de interpretar. Fosse somente um rostinho bonito, como tantos e tantas,
Imdb
Permita-me o leitor aproveitar o ensejo para repetir uma historinha com sabor de fofoca e maledicência, a qual, se verdadeira, serviu e serve para lavar a alma de muitos marmanjos. Refiro-me ao “não” que Delon levou, no Rio de Janeiro, de uma linda modelo brasileira com quem dançou embevecido a noite inteira na então badalada boate Regine’s. Ele pensou que ela estava no papo, quando foram “esticar”, madrugada alta, no apartamento de um amigo do ator. Mas não. Surpreendentemente, ela o deixou a ver navios, completamente frustrado e atônito com a inabitual recusa, que tanto deve ter ofendido seus brios de galã irresistível. O nome dessa heroína (ou dessa maluca, como queiram) é Fernanda Bruni. E a razão de seu “não” histórico foi absolutamente singela e edificante: ela estava apaixonado pelo namorado e não quis traí-lo. Mesmo com Alain Delon. Bravíssimo!
Li que seus últimos meses foram melancólicos. Já não havia nenhuma alegria de viver. Suas fotos derradeiras mostram isso. Um ar de enfado com a existência que nem as recentes homenagens conseguiram abrandar. A luz se apagara. Chegara a hora da cena final. O filme de sua vida terminara.
Já Belmondo era o que se chama de “feio charmoso”. Sem ser exatamente bonito, fez muito sucesso com as mulheres, o que serve de consolo e de esperança para muitos. Estourou em 1960, com o filme Acossado, dirigido por Jean-Luc Godart, e daí para a frente foram mais de oitenta produções, que terminaram por consagrá-lo, junto com Delon, como um dos maiores artistas franceses do século XX.
E sobre a Bardot, o que dizer? Só poderá falar quem foi jovem nos anos 1950, 1960 e 1970, época em que a deusa reinou, absoluta, nas fantasias eróticas de meio mundo. Que lourinha linda e sensual a França nos deu de presente, ao irrisório preço de uma entrada de cinema.
Fonte: DiscoGS
Mas o tempo passou para todo mundo: nós e ela. Recusando plásticas e procedimentos mil, a deusa entregou, deliberadamente, ano a ano, seu rosto lindo às rugas inevitáveis. Despiu-se da vaidade feminina e optou pela verdade do tempo, aquela da qual não se foge, mesmo que sob os ilusórios milagres operados por Pitanguis e companhia. E, simultaneamente, acolheu os animais, os próximos e os distantes, como um nobre ideal ao qual dedicar o seu assumido crepúsculo.
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