As “Opera Houses” construídas pelo mundo afora não só servem para abrigar os refinados espetáculos do gênero, que são obras de arte em que a música sinfônica, o canto lírico, a dança, o drama, a literatura e o cenário se fundem na mais completa expressão artística já concebida pela humanidade: a ópera. Elas também consolidan a arte de projetar monumentais edificações que se erguem em seu nome, e terminam por se tornar, em muitos países, suas maiores atrações turísticas.
Afinal, toda cidade que se preze, nos países mais cultos ou civilizados, por menor que seja, tem a sua Opera House. Em muitos casos, sobretudo nos mais modernos, os projetos são imaginados para se instalar próximos a espelhos d'água, naturais ou não, a exemplo de Oslo, Copenhague, Guangzhou, Sydney, Reykjavik, Pequim, Nizwa, Harbin, entre muitos, e, assim, buscar em seu reflexo uma maior extensão de suas magnitude.
Em outros, procurou-se dotar seus interiores de glamour artístico, tanto na rebuscada ambientação, quanto na valorização das artes plásticas, em esculturas e pinturas, como no teto da tradicional Ópera de Paris, o “Palais Garnier”, muito bem ilustrado com o belo afresco do artista franco-russo, Marc Chagall. Enfim, as casas de ópera terminam sendo a própria “música petrificada”, como bem dizia Goethe.
As salas de concerto não ficam atrás e têm pontuado a arquitetura moderna com impressionante magnitude. Tanto as salas como as óperas, hoje em dia, são palcos de recitais, concertos, balés e óperas indiscriminadamente.
Exemplos audaciosos de salas de concerto são o Elbphilharmonie, de Hamburgo, e a Philarmonie de Paris, com suntuosa arquitetura tecno-orgânica, tanto externa como internamente, criadas em lindas curvas em que se abrigam segmentos da plateia em forma de “conchas” suspensas em arrojados balanços.
Philharmonie ▪ Paris
A Philarmonie de Paris, inaugurada em 2011, é indubitavelmente um colosso da arquitetura moderna. Concebida pelo escritório do arquiteto francês Jean Nouvel, para integrar o complexo artístico-cultural denominado Cité de la Musique, projetado em 1995 por Christian de Portzamparc, que compreende vários edifícios localizados no Parc de la Villette, possui o maior ambiente de apresentações com 2.400 lugares.
A característica mais marcante deste extraordinário monumento arquitetônico é sua fachada mineral, composta de elementos plásticos em liga de alumínio, em forma de gaivotas, que se justapõem entrelaçados integrando as superfícies que emolduram a volumetria. Esse tema, que se repete também internamente nos revestimentos de piso e outras paginações, mantém um elo contínuo de ligação da ideia de Nouvel, em vários aspectos do projeto, soando como um leitmotiv, numa verdadeira sinfonia edificada.
Todo o edifício é uma composição de formas inovadoras, revestido com um redemoinho de peças metálicas que simulam pássaros e se encaixam como num quebra-cabeças. Na fachada exterior principal, há cerca de 340.000 peças, divididas em sete formas e quatro tons distintos, em nuances que variam do cinza claro ao preto. Alguns críticos revelam que a sensação pretendida pela criação de Jean Nouvel foi realmente resgatar a imagem de uma grande revoada. Certamente uma revoada de pássaros que se abrigam encantados pelas entrâncias e reentrâncias da majestosa edificação.
O interior da Grande Salle, onde ficam o palco e a plateia, tem design que remonta ao modelo pioneiro da Filarmônica de Berlim, cujo objetivo é proporcionar intimidade convergente entre público e artistas. As poltronas são distribuídas entre a plateia, à frente, pelas laterais, atrás da cena, e em varandas que flutuam proeminentes ao redor do palco central. De maneira que o espectador mais distante situa-se a apenas 32 metros do regente.
Outro ponto culminante que encanta o exigente público da música erudita é a acústica, considerada uma das melhores do planeta. Suas paredes são constituídas por paineis destinados a refletir e difundir o som em múltiplas direções. Estes painéis alternam-se em vários ângulos para possibilitar a absorção de reverberação e aveludar a sonoridade, por superfícies especialmente tratadas para fazer com que o fenômeno acústico ressoe cheio e robusto em toda amplitude espacial interior, com seus 30.500 metros cúbicos.
Existem, ainda, níveis e assentos retráteis que possibilitam, em eventos maiores, aumentar a capacidade da plateia para 3.650 lugares, em concertos de configurações especiais.
Uma visita à Philarmonie de Paris, de preferência em noite sinfônica, é algo que certamente permanecerá inesquecível na memória de qualquer turista, sobretudo dos que apreciam a Música e a Arquitetura, parceiras milenares no mundo das Artes.