Ao abrir a janela, na bela manhã ensolarada de um sábado, me deparo com uma cena fantástica, que só a mãe-natureza é capaz de produzir. Num prédio em frente, lá estava um bando de pássaros partindo em revoada. Em poucos segundos retornaram. Mais uns minutinhos e repetiram a ação. E na busca de tentar entender, fui brindada com várias sessões.
Acervo da autora
Ainda em jejum, decidi priorizar aquela 'didática'. Ou melhor, aquela 'orquestra'. Fui buscar o celular, torcendo pra conseguir registrar. Começaram as minhas tentativas de decifrar as estratégias. Quanta audácia, Fátima!! Como alcançar os mistérios da mãe-natureza? Dei sorte.
Eles partem sempre em direção ao Leste. Numa das vezes, lá ficou um pássaro solitário, rodopiando, como se examinasse o entorno do ambiente e tivesse uma missão especial. Lá vinha o bando, retornando. Ao chegar, bem organizado, se distribuía entre os dois pavimentos. Enquanto isso, chega uma dupla retardatária. Novamente reunidos, eles se "comunicavam" como se avaliassem o voo. Impressionante essa experiência.
Acervo da autora
Em geral, quando chegam e antes de se distribuírem, ficam todos perfilados, em posição de sentido, ao longo do pavimento superior. Enfim, o certo é que eles se entendem bem, dentro de uma linguagem própria.
De tão sintonizados, entre si, imaginei que uma música acompanharia aquele ritmo. Qual seria? A resposta chegou à minha mente.
- É o Bolero de Ravel.
Faz sentido, sim, o hiato entre sincronia, sinfonia e sintonia. Perfeito!! Bate também uma curiosidade: como seria aquela interação do bando? Parecia ter um script próprio. Passei a observar a movimentação e, ao que parece, é uma rotina diária.
Lembrando a infância
Por um instante, retrocedo à minha infância. Diariamente, minha mãe tinha um ritual, nas manhãs: colocar água e comida para os pássaros, no quintal da nossa casa. Eles vinham em bando, se alimentavam e seguiam, para retornar no dia seguinte, no mesmo horário. Como eles sabem ler o tempo? Mistério. Eis a inteligência própria em sincronicidade!!
Certa vez, pensei em providenciar uma arapuca para criar algum. Mamãe nunca estimulou. Hoje compreendo. Pra que conter sua liberdade, se diariamente tínhamos aquela visita em bando? Deixe-os livre. O céu é seu limite.
ALCR
Neste ínterim, o organismo alerta para fazer o desjejum.
- Fátima, vai cuidar da vida. Por hoje é só. Deixa para a próxima sessão.
Sigo a minha rotina do sábado. Mas o espetáculo reverberava na minha mente. Tenho que imortalizar esse momento e registrar minhas emoções.
- Até o próximo espetáculo!!
Pássaros em minha arte
Fátima Farias
Os dedos direto nas tintas, sem pincéis, vão às telas, se movem e distribuem as cores, imprimindo as emoções, extraídas do âmago do ser. Igualmente, colocar as mãos na argila, fresquinha e maleável, vão dando formas às peças, atualmente simbolizadas por pássaros, promovendo a sensação de liberdade plena.
"Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós..."
Nesta área específica, da cerâmica, conto com o olhar e incentivo do professor Ilson Moraes, do Imaa (Ilson Moraes Atelier de Arte).
Fátima Farias
E, conforme me falou o arcebispo Dom Aldo Pagotto numa entrevista, falando sobre a vida:
- Deixe o Mistério acontecer!!