"Vou rezar para que a noite acabe Vou rezar para que a morte morra Vou rezar para que todos se salvem Vou reza...

Me recuso a ter um Deus porque ele está em mim

 
 
 
"Vou rezar para que a noite acabe Vou rezar para que a morte morra Vou rezar para que todos se salvem Vou rezar para que não haja a miséria" (Vou rezar!) E não prestaram atenção No milagre dos pães....? Não viram ele somar e dividir? Não souberam de seus passos Sobre as águas? Só viram nisso magia? Não viram ele com uma mulher explorada Viram ele com uma rapariga pecadora Não o viram bater no capital Nem fazer o que Baco não fez Não o viram acolher Açoitar Sorrir Ser Mas ele seguiu dizendo o que pensava Foi preso político Torturado Assassinado "Por que me abandonastes"? E ele sabia que não foi abandonado Ele sabia de quem abandona quem Ele tinha um bando, ele era um bando Ele não foi santo nem rei Mas teve coroa de verdade feita de espinhos E um cale-se E morou em tantos lugares Nas galés Nas encostas Nas marés Na ruas Ele era feio e sabia de memória Sobre mim Essa coisa drogada que viria ao mundo Como contam os outros homens Mil novecentos e sessenta e quatro anos e dois dias depois dele Já o trouxe comigo Porque sabia dele E do que nele doeu Mas ele não sou eu Rasgo a terra em trilhas Busco pão Tomo o alheio Ele não Guardo o que não preciso Destruo o que não conheço Registro minhas bravatas Eu não sou ele Sei que seria bom sê-lo E queria morrer em paz Cruz espanta fantasmas Nelas se pregam santos E todos as carregam Ele é a encarnação do bem Do justo Do esquecido Mas o mataram porque trouxe vida! Somos estúpidos E todos os estúpidos precisam de um Deus Que justifique seu poder "Pai Nosso que estais no Céu!" A luz é o desejo dos cegos Mas também cega os que querem ver demais Esse foi um certo Jesus e Que por conhecer esse equilíbrio O mataram. Quanto a mim Que faço esse registro Uma consciência do nada Mas no abandono de mim mesmo Me apego à borda do meu irmão Que já existiu e vejo a luz que ele deixou 2024 anos é lenda! E eternidade Não é infinito Não tenho um Deus Tenho um homem Que sangrou como eu Soube o que foi dor em algo com o amigo Soube o perigo que é o outro Mas também o poder do seu amor Me recuso a ter um Deus Porque ele está em mim E sua natureza sou eu

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