As ruas da Cidade Velha de Jerusalém, palco de passagens bíblicas, revelam histórias verdadeiramente incríveis, desde logo, natura...

Jerusalém, sete séculos de história na pele

jerusalem tatuagens
As ruas da Cidade Velha de Jerusalém, palco de passagens bíblicas, revelam histórias verdadeiramente incríveis, desde logo, naturalmente, nos locais sagrados para as três religiões monoteístas, passando pelos enigmas mais profundos que se inalam, ao percorrer dos séculos, em cada degrau calcorreado ou dédalo estreito de rua por onde se caminhe.


Entre singularidades várias, notabiliza-se o estúdio de tatuagens mais antigo do mundo, em atividade desde 1300, o Razzouk Tattoo. Propriedade de uma família cristã copta do Cairo que se fixou em Jerusalém e herdou consigo a arte ancestral que exercia no Egito, este espaço está agora nas mãos de Wassim Razzouk, ao que se supõe descendente da 27ª geração de artistas que fizeram carreira usando as mesmas ferramentas e técnicas que a sua família importou do Egipto para esta região.

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Acervo Razzouk Tattoo ▪ Jerusalém
Na tradição copta e em outras tradições cristãs orientais as tatuagens têm sido usadas como um marcador prático de fé. Ao longo dos séculos, este antigo estúdio recebeu clientes ilustres, como o imperador etíope Haile Selassie, baptizado como Tafari Makonnen, que fez uma tatuagem durante uma das suas peregrinações a Jerusalém.

Encontramos o estabelecimento ao percorrermos os antigos paralelepípedos da rua St. George, perto do Portão de Jaffa (Bab al-Khalil), um dos oito principais portões
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Imagens ▪ Wikimedia
das muralhas que cercam a Cidade Velha. Os outros portões da cidade são: o Portão de Damasco (Bab al-Amud), o Portão de Herodes (Bab al-Zahra), o Portão dos Leões (Bab al-Asbat), o Portão Dourado (Bab al-Dhahabi ou Bab ar-Rahman), o Portão do Estrume (Bab al-Maghariba), o Portão de Sião (Bab Haret al-Yahud) e o Portão Novo (Bab ij-Jdid)

Ainda hoje o estúdio Razzouk Tattoo recebe muitos turistas cristãos que visitam Jerusalém e escolhem fazer tatuagens religiosas como lembranças permanentes da sua visita à cidade sagrada. Os esboços incluem cruzes em diferentes formas, bem como outros símbolos cristãos e representações da Virgem Maria.

As técnicas na produção das tatuagens variam desde as mais modernas até as mais antigas, como a utilização dos tradicionais carimbos feitos em madeira, alguns inclusivamente com 500 anos de existência, um verdadeiro património. Não só turistas, mas também muitos religiosos, como padres e monges do mosteiro siríaco ortodoxo de São Marcos, em Jerusalém, procuram o estúdio para fazer as suas tatuagens. Ao longo destes 720 anos, a família de tatuadores mais antiga do mundo exerce com orgulho o tradicional ofício que tem vindo a passar sucessivamente de pai para filho.

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Imagens ▪ GMaps

A primeira evidência das tatuagens cristãs remete aos séculos VI e VII na Terra Santa e no Egito. Com o tempo, esta prática começou a ser replicada nas comunidades etíopes, arménias, siríacas e maronitas. Com o início das cruzadas, o costume de tatuar os que concluíam sua peregrinação à Terra Santa foi adotado pelos visitantes europeus, uma tradição que permanece até hoje.
SOBRE O AUTOR
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António José Rodrigues é autor do livro "Um Certo Oriente", que reúne crônicas sobre suas experiências com a cultura do Norte de África, Médio Oriente, Golfo Pérsico e Ásia. É ensaísta, orientalista e, semanalmente, aos domingos, apresenta o programa com o mesmo nome de seu livro, transmitido de Portugal pela Telefonia da Amadora, das 21h às 22h. No horário de Brasília, a emissão ocorre das 17h às 18h.

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