Nem sempre o sentido de determinadas palavras está no que diz o dicionário. Por vezes a experiência que temos com elas nos encoraja a tentar redefini-las, acrescentando-lhes matizes que não se encontram na conceituação tradicional.
Esse acréscimo nada tem a ver com polissemia; dicionário nenhum iria encampar os sentidos que apontamos abaixo. Relaciona-se, antes, com facetas do comportamento humano associadas a esses vocábulos. Daí ser necessário extrapolar o que sobre eles informa o (inadequadamente cognominado) “pai dos burros”. Se o leitor não concordar com as novas acepções, poderá sugerir outras. Vamos lá:
CANSAÇO ▪ Estado de fadiga física ou mental que acomete sobretudo quem não faz nada.
CÉU ▪ Prêmio que os pobres almejam ganhar em outro mundo, e os ricos preferem desfrutar mesmo neste.
CONFIDENTE ▪ Pessoa que a gente escolhe para contar aos outros os nossos segredos.
CONVICÇÃO ▪ Certeza que temos de algo enquanto não nos convencemos da verdade oposta.
COVARDIA ▪ Manifestação envergonhada do instinto de conservação.
CULPA ▪ Dívida imaginária a um credor que se agiganta à medida que sentimos aumentar o débito.
EMPRÉSTIMO ▪ Doação camuflada sob a promessa de retribuição do beneficiário.
ECONOMIA ▪ Prática que os ricos adotam por opção, e os pobres, por necessidade.
ESPÍRITO PÚBLICO ▪ Disposição que se manifesta nos políticos a cada quatro anos e desaparece nos intervalos.
FIDELIDADE ▪ Compromisso de não trair o outro desde que outro não nos atraia.
FUTURO ▪ O que a gente sempre espera mas nunca chega, pois quando chega já não é mais.
GOSTOSURA ▪ O que os homens dizem de certas mulheres, e as mulheres dizem de certas tortas.
IDEOLOGIA ▪ Justificativa para escolher os candidatos em função dos grupos a que se filiam, e não das suas qualidades pessoais.
MACHISMO ▪ Desvario da hombridade, que no fundo mascara o medo de não ser considerado homem.
PERFECCIONISMO ▪ Impulso que nos tira o prazer de fazer bem feito pelo receio de não fazer melhor.
PROMESSA ▪ Garantia que damos, em determinado momento, do que não vamos cumprir depois.
SOLIDÃO ▪ O preço da liberdade, que muito poucos se dispõem a pagar.
TACOCARDIA ▪ Aceleração dos batimentos cardíacos que vez por outra acomete os jogadores de sinuca.
TIMIDEZ ▪ Receio que o indivíduo tem de se mostrar como é por medo de que o tomem pelo que não é.
UTI ▪ Lugar onde geralmente se morre depois de gastar os tubos.
VERGONHA ▪ Sentimento que falta a quem precisa e às vezes sobra em quem não merece.