O amor como a poesia nos repõe o olhar, sedento pela crueza revestida de um leve cozimento - cicatriz a ser a lembrança. Não quero ter filhos para ser pai do mundo. Sem pretensão de ser Deus. Não quero que ninguém seja órfão em sua dor. Por isso estou sempre a gestar. Paro às vezes para parir. Sofro as contrações da vida e nalgumas madrugadas pus meu choro à prova. Fui aprovado. Já diziam: “a noite é curada com a lágrima”. É mais fácil acreditar nos precipícios lacrimais do que no sorriso fácil.
Quem gerou os meus escritos foram os silêncios. Quando no recanto tive vontade de cantar, gritar, implorar o direito à fala.
Minha sede por significados. Meus sentimentos sem dicionários. A vontade de rebobinar o tempo e descobrir os “porquês” por trás dos “comos”. Meu erro foi querer fazer do futuro um presente. Esqueci porque perdoei ou perdoei porque esqueci? Aos poucos vou alcançando a luminosidade que não me ofusca. Desprendendo-me da minha arrogância e do meu egoísmo. Descobrindo o que carrego. Só se consegue isso aos poucos, mas nunca totalmente. Eu me vejo no que me escondo. Quando nego, também afirmo e isso se chama identidade. Pelos acasos me causo sem causa. Por baixo dessa grossa carcaça há um homem que não admite ser só. Solitário, sim.
A paixão é uma doença que cura. Deixa rastro e não mostra o rosto. Suas facetas revelam setas desconhecidas pelo tempo. O amor não usa relógio. Não acredito nesse sentimento como sendo eterno, porém terno e no alcance de seu termo.
Sofro quando faço sofrer. Escrevo mesmo para empregar a dor alheia como sendo a própria e para entregar a minha aos outros. Como criança birrenta, acho que os meus quereres devem permanecer. Tenho notado seu caráter súbito que tão logo se esvai. Fico sem espaço. Meu coração vira ventre e vai se alargando. Mas, quando hei de parir sem partir? Voltará à sua forma natural? A rotina vem e repara. Agenda cheia para me dar a segurança de estar bem vivendo. O telefone toca; não gosto. Vez em quando quero que me esqueçam para eu me lembrar de mim. Como ser sem o outro? Viver sem conviver?
Antes a poesia me procurava. Agora, eu a procuro. Dobro-me diante de seus desdobramentos. Poeta gosta mesmo de sofrer. Prostra-se frente à beleza. Mas não há literatura que aguente tantas máscaras. Viver é uma forma de travestir-se de si mesmo todos os dias. Se antes eu me dizia versátil, hoje quero ser universo.
Confesso estar vivendo. Sei que a vida me trará muitos acidentes, mas a minha busca é pelo essencial. Tudo é muito rápido e creio ter apenas essa oportunidade. Não quero perder tempo com pouca coisa. Não quero ser menos do que posso ser. Não quero fazer do outro apenas instrumento da minha vontade. Meu amor é o meu amor. Preciso me ouvir, então escrevo. Só não quero que, na ânsia de percorrer distâncias, eu me distancie de mim. Confesso estar vivendo...