Coisas estranhas. Quando, no Museo Reina Sofia, Madri, 1994, parei ante o Guernica (3,49 m X 7,77 m), fiquei impactado... comigo, pois nem separado da obra do século apenas pelo vidro à prova de balas, me empolguei. Isso, durante bom tempo, me azucrinou. “Por que? Por que? Por que?”
— Porque ali é tudo cinza – me respondi, tentando uma resposta. – Não há sangue.
Não bastou. Cheguei mais perto quando disse:
— Porque as figuras humanas e as dos animais não são reais, mas... caricaturas.
Foi aí que associei as criaturas do painel às de Millôr Fernandes, que vira durante boa parte da infância e adolescência na seção Pif-Paf - da revista O CRUZEIRO (1928 - 1985) -, em que ele assinava Vão Gôgo. A realidade me confirmou isso: em 2017, 23 anos depois que estive lá, inaugurou-se uma mostra, no mesmo museu, de variações internacionais da obra, que incluía o quadro GUERNICA: UM MINUTO ANTES, do brasileiro, de 1981.
Coisas estranhas. Ante uma foto de Guevara morto, resolvi criar uma tela colocando-o no colo da Virgem da Pietà de Miguelângelo transformada em estátua da Liberdade. Naquele tempo não havia o manancial de imagens da internet à disposição, me servi desse único registro de que dispunha. Quando terminei a reprodução, dei com o enigma: a fotografia era fiel ao Che, minha reprodução era fiel à foto, ... mas meu retrato não era fiel ao Che. “Como pode?!”. O amigo maestro Kaplan tinha muitos livros sobre seu conterrâneo ( eram de Rosário, Argentina) e fui à sua casa, atrás de outras imagens do guerrilheiro. Ante novo close do Dr. Ernesto Rafael Guevara de La Serna, descobri o erro: o guerrilheiro tinha falhas na barba, de modo que bigode, costeleta e cavanhaque não se emendavam.
Comparando essa segunda versão com a primeira, de que me servira, constatei que, nesta, havia um sombreado tão escuro, que a barba me parecera inteiriça e eu embarcara nisso. Fiz a correção e... tchã: ali estava o homem! Meu inconsciente – o no saber, sabiendo - sacara o erro e dera o alarma.