Bastava sentir o cheiro da terra, da vegetação molhada depois de uma chuva, para contar uma passagem da nossa infância a quem estives...

Cheiro de terra

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Bastava sentir o cheiro da terra, da vegetação molhada depois de uma chuva, para contar uma passagem da nossa infância a quem estivesse ao meu lado.

Esse era o cheiro da infância: do mato do sítio onde morávamos, ele me transporta para tempos de inocência em que a fantasia povoava minha mente, fazendo-a viajar por mundos encantados, repletos de fadas, heróis, mocinhas e bandidos.

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Nessa época, era possível sonhar de olhos abertos, conversar com amiguinhos só vistos por mim. Tempo em que me sentia protegida de todos os perigos por painho, meu maior herói, e mainha, meu modelo de mulher. Os irmãos eram meus companheiros de brincadeiras.

Na infância, era possível ouvir os cantos dos pássaros; acompanhar a ordenha das vacas e passear nos jumentos; correr pelos extensos lajedos existentes no quintal de casa e comer aqueles frutos vermelhos, carnudos, de polpa branca, com minúsculas sementes pretas; tomar banho na cachoeira era sagrado; subir nos pés de seriguela, goiaba, manga, caju. Ficar com a língua roxa de tanto comer oliveira.

Época em que nos sentíamos verdadeiras princesas.

Como a inocência era mágica!

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Facilmente acreditávamos nas estórias contadas pelos moradores do Sítio.

Comadre Fulozinha? Era pequenininha e cabia na palma da mão. Seu cabelo era capaz de dar uma surra no maior homem que existisse. Sempre deixava marcas no corpo que nunca mais seriam apagadas. Em casos mais graves, a pessoa morria de tanto sangue que perdia. Todo mundo precisava se esconder quando ouvia seu assobio, sinal de que ela estava por perto, esperando para pegar o primeiro que entrasse no mato ou que saísse sozinho à noite pela estrada deserta.

Pelo seu tamanho, não era para ser temida.

Se cabia na palma da mão, poderia ser facilmente esmagada, mas sua velocidade fazia com que não fosse nem percebida, só conseguiam ouvir seu assobio.

De olhos vidrados no contador da noite, eu e as outras crianças jamais teríamos coragem de duvidar.

*Do livro As marcas de um cheiro, em fase de edição)

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