Tenho buscado propósitos e significados novos para a minha vida. É um esforço no sentido de ser feliz de forma muito simples. Tenho aprendido jardinagem, aquarela, técnicas japonesas de caligrafia e a fazer bonecas de papel, washi ningyo.
ImagensSonia Zaghetto
Minha tarefa como assistente de jardineiro no templo budista é apenas a de tirar ervas daninhas, mas ampliei para varrer, limpar as cadeiras e retirar teias de aranhas do portão, pois amo aquele lugar. Curvo-me ao entrar e ao sair. Acaricio plantas, lavo folhas, passeio entre as pedras, a pequena ponte, as lanternas e as flores miúdas – e me sinto como quem ganhou um grande ticket para o paraíso. Lá no templo, eles me agradecem por cuidar do jardim. São tão gentis. Eu estranho, pois é como se me agradecessem por cuidar de um filhinho. Não é trabalho – é amor.
A gente limpa os filhos, não? E não nos sentimos diminuídos por isso.Nos últimos meses eu me afastei bastante das redes sociais. O número de curtidas às vezes diminui. Isso não me perturba. As pessoas têm interesses diversos ou às vezes se cansam da gente. E há tantas coisas interessantes no vasto mundo das plataformas digitais: gente talentosa, criativa, maravilhas da natureza. Tudo está certo no mundo.
Terminei meu romance há dois dias. Muito intenso, um processo desgastante que durou três anos. Ao escrever a palavra “fim” tive uma descarga de adrenalina e não consegui dormir. Passei o dia em estado de dançarino cósmico. Então fui ao jardim zen, onde a humildade das tarefas me ensina o meu lugar no mundo: um habitante a mais, entre bilhões – um pequeno bípede que só deseja ter paz no coração.
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Hoje vou cuidar dos meus cactos. Dei-lhes nomes: cotonete, comprido, peludo, barrilzinho. Moram no meu quarto de escrever e ao cuidar deles aprofundei meu amor por seres cheios de espinhos – algo que os humanos já haviam me ensinado. O bonito é continuar a amá-los. Só não precisamos deixá-los nos ferir.▪ Texto publicado originalmente em soniazaghetto.com