É isso aí, Alain Delon se foi depois de colocar 88 velinhas em seu último bolo de aniversário. O bonitão, que a partir do final da dé...

Au revoir, Monsieur Delon

alain delon
É isso aí, Alain Delon se foi depois de colocar 88 velinhas em seu último bolo de aniversário. O bonitão, que a partir do final da década de 1950 arrancou por mais de 30 anos suspiros de moçoilas mundo afora, partiu dias atrás para aquela viagem sem volta. Essa sua ida para outras dimensões foi merecidamente carpida por muitas senhorinhas que naqueles anos dourados estavam nas poltronas de nossos cinemas soltando ais e outros gemidinhos quando esse mocetão aparecia em close na telona. Era um Deus nos acuda. Um frenesi interminável. Quisera eu ser dotado de tais atributos. A vida teria sido mais generosa comigo. Beleza não é tudo, mas que facilita, facilita!

Música: Paroles, Paroles (Dalida & Alain Delon)
Acontece que nem ele escapou da finitude que aguarda todos nós, reles mortais. De nada adiantou aquela belezura toda. Quando a hora é chegada, não tem jeito. A vida é assim.

Até já era passada a hora de tais elucubrações. Nosso astro foi merecidamente lembrado nesses últimos dias. Sua trajetória ficou marcada pelo talento que era outra virtude sua, indiscutível também. Nem era preciso dizer mais. E o que me fez voltar a essa notícia já com fumos de um café requentado, quase fora da validade? Ah meus amigos, minhas amigas, esse acontecimento trouxe-me à tona uma lembrança que não posso deixar sem registro. Nós também tivemos nosso Alain Delon.
Alain Delon
Isso mesmo um Alain Delon com os devidos registros de pia e cartórios. O nosso era Alain Delon de Oliveira Bastos. Era, porque não é mais. Esse, já faz anos que foi “estudar a geologia dos campos santos”. Antes de contar um pouco dele (o famosão já foi devidamente celebrado) cabem algumas considerações. Vamos a elas.

É comum por aqui, atribuir aos rebentos, independentemente do gênero, nome de gente famosa. Pode ser uma homenagem, ainda que de mau gosto, ou o que é pior, imagina-se que a criança vá herdar as virtudes ou outras singularidades do homenageado. Já conheci a “versão genérica” de muitas celebridades.

Tive até um namorico com Grace Kelly. Era baixinha, morena, bonitinha até, mas um pouquinho estrábica. Um pouquinho só. Fui colega de sala na faculdade de Getúlio Vargas de Araújo, um sujeito cheio de banca que nem sei se deixou a vida, mas certamente não entrou para a história. Já conheci um Hitler e um Mussolini, mas nem um e nem outro praticava maldades. Júlio César é o que não falta por aí. Napoleão tem alguns. E Arthur, então? Culpa do Zico. Greta Garbo morava na mesma rua que eu e era bonitona, mas nem tanto quanto sua homônima sueca. Marta Rocha, tive uma professora de geografia com esse nome, mas a pobrezinha era prejudicada esteticamente. Conheci a Ava Gardner Pinheiro, que era feia de dar dó. Por aí vai.

alain delon
Grace Kelly
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Greta Garbo
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Ava Gardner

E com nome de santo ou santa? É isso aí minha gente. Então, não seria difícil perceber a possibilidade de existir um ou mais Alain Delon por aí. Conheci um deles, o já citado Alain Delon de Oliveira Bastos. Trabalhava na portaria de um prédio que morei quando estive uns tempos lá por Campinas, no interior paulista. Ao ser apresentado à criatura fiz das tripas o coração para não soltar uma gargalhada. Quando se identificou pensei que fosse uma pilhéria. O “muito prazer”, seguido com um nome daqueles... Já pensaram? Pois pensem num sujeito desprovido de encantos. Era baixinho, barrigudo, um pé um tiquinho de nada maior que o outro, orelhas de abano, aquele nariz com jeitinho de uma batata inglesa com dois furinhos à frente. Os dentes? Todos, mas desarrumados, com um querendo pular à frente do outro.
Alain Delon ▪ 1935—2024
Os cabelos? Como saber, se o pobre usava peruca?

Acontece que esse nosso Alain Delon era um otimista incorrigível. Como dizem: Se achava! Estava eu, certa vez, na garagem do prédio, dando um tempinho quando ele apareceu e puxou conversa. Falou da Macaca, sua gloriosa Associação Atlética Ponte Preta. Em seguida falou mal do prefeito, do governador e até do presidente. Depois enveredou para outras pautas. Eu queria ver até onde aquela singular criatura ia esticar a prosa. Fala uma coisa, diz outra e a conversa até que chegou onde ele queria: as mulheres.

Aproximou-se, inclinou a cabeça para o meu lado, colocou a palma da mão em frente àquela boca desorganizada como quisesse me revelar um segredo e me soltou essa: “Estou pegando a Dalvinha que trabalha no 723”. Aquele “galã” dando uns pegas em alguém? Fiquei meio que não acreditando.

Dias depois descobri quem era Dalvinha. Criatura que no quesito beleza ficava pelo meio do caminho: nem lá, nem cá. Minha mulher, sabedora do causo, comentou: “Pode acreditar, é verdade, todo prédio anda falando. Seu Alcides, do 521, ainda me disse todo cheio de ironias que para aquele Alain Delon Dalvinha era muito mais do que uma Romy Schneider”. E era.

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  1. Bravíssimo, Paiva. Francisco Gil Messias.

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  2. Muito legal , um testemunho fiel de uma época que se repete com apenas com novos homenagiados

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