Numa extensa faixa de terra no oeste da Paraíba, espremida entre os Estados de Pernambuco e o Ceará, situa-se a cidade de Conceição do Piancó. Sua gente arrasta pelos penosos caminhos dos tempos tradições e costumes que trazem a marca da sabedoria popular. Sobressai a espiritualidade dessa gente, que explora com espontânea verve o pitoresco dos fatos.
Contam que Nicanor, na busca de melhores condições de vida ou para fugir à agressividade da natureza hostil, tomou uma inesperada decisão: arredar o pé do torrão natal. Naquele tempo, como ainda hoje, eram comuns essas arribadas para as terras do sul, onde se acreditava encontrar
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E se mandou. Um, dois, três anos, e ninguém tinha a menor notícia de Nicanor.
Numa fria manhã de junho, antes do nascer do sol, um pau-de-arara procedente do sul do País faz parada na praça da matriz, e Nicanor salta de sua carroceria, empoeirado, envergando um blusão de frio. De uma das mãos pendia a maleta de couro com toda a sua riqueza, e da outra um rádio portátil.
Amigo de todo mundo, não tardou em receber os cumprimentos de boas-vindas do sargento Valões, madrugador, já havia se inteirado do que ocorria e lhe estendeu a
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⏤ Veio pra ficar, Nicanor?
A resposta carregada de sotaque paulista não se fez esperar.
⏤ Vim de férias.
Toda cidade logo tomou conhecimento da volta de Nicanor, e a curiosidade popular era aquela impertinência ⏤ Como é, veio pra ficar, quando volta, está bem de vida? A informação era sempre a mesma: "Estou de férias".
De tanto correrem os períodos de férias, já se foram quarenta anos de sua volta à terra natal. Talvez, as mais longas férias de que já se teve conhecimento ao longo da história. A cidade ainda hoje conserva esse dito prosaico: as férias de Nicanor.
E desde aquele dia, sempre que alguém chega a Conceição e se diz de férias, alguém pergunta sem titubear:
São as férias de Nicanor?