Palavras de fundo
Assombra-me um vazio no peito É noite, noite Brisa carícia De onde estou não vejo estrelas. Eu as sei, mas não as vejo. O perfume forte da dama da noite chega pelo ar. A realidade é opressora Lá fora não é aqui dentro Superlativo mundo pressiona o peito em não existência A normalidade roubou a essência humana Viver é ficção. Na busca por si mesmo o homem perdeu a si e ao outro. Amor é palavra vaga. Não tem mais a ver com olhos mergulhados em olhos Bocas para o beijo nascido do desejo O encontro começa pelo olhar, o desejo completa-se na boca. Não está na pauta dos tempos que correm o prazer de simplesmente estar. Perdeu a graça e o poder de encantar. Preenchida pelo silêncio ouço grilos e vejo luzes pirilampas A onda do mundo pegou- me num arrastão. Esta angústia que nem o sol espanta, dias de cura em doses homeopáticas, conversa com o Santo Anjo da Guarda, os pés à beira mar, redondilhas de ondas miúdas... Sinto falta nem sei de que, se tenho tudo. A falta de reciprocidade Não sei se espero demais ou de menos, sei que não devo esperar. — Onde me situo? Creio que sinto mesmo é saudade sem endereço certo. — Onde está o futuro do passado? — O presente que mal se escreve, apaga? Em tudo tem tanta beleza A natureza é harmônica. Vivemos anestesiados, estado de sono Entorpecidos pela alta velocidade que precipita os fatos Avoados perdendo coisas Devo guardar o essencial, a consciência. Quando oro anjos preenchem-me Num instante, torno-me a leve menina distraída na imaginação Ouço “Luar do Sertão” Tem pai e mãe, viola que chora acende meu coração o latãozinho de leite gordo o tropeço na pedra do caminho a fábula de Monteiro Lobato a barranca do rio o rachado da lama. Há seca ou o tempo chora convulsivamente. Inunda o espaço, alaga. A saúde da terra no mato intocado A bulha dos passos mansos adentrando ao sagrado. Ali havia um rio Colhemos jaca e foi uma festa. Pena que tinha mutuca O Vale intocado, espraio o olhar atrás do Morro dos Segredos. Quando cozinho medito. As ervas têm alma e perfumam atiçam o sabor. Vejo estrelas na água que ferve no fogão, varro sapos e lagartixas para fora, onde o quintal chama E o gato espera. Não sou o que penso que sou. Escapo por um buraco no céu, fico tonta e danço, giro do dervixe. Entorpeço-me de espaço Crio para estar com Deus O ouço no céu e no mar. Assim o tempo acontece... A vida é só o que passa. Queimo na lenha do corpo e alma A pequenez do meu ser E nada sou, livre no éter Nas linhas da mão o traço é luz. Ilumina o silêncio, clareia o mistério, trabalho a sombra E me refaço. Mesmo assim, estou em falso A menina que fui envelheceu.
Assombra-me um vazio no peito É noite, noite Brisa carícia De onde estou não vejo estrelas. Eu as sei, mas não as vejo. O perfume forte da dama da noite chega pelo ar. A realidade é opressora Lá fora não é aqui dentro Superlativo mundo pressiona o peito em não existência A normalidade roubou a essência humana Viver é ficção. Na busca por si mesmo o homem perdeu a si e ao outro. Amor é palavra vaga. Não tem mais a ver com olhos mergulhados em olhos Bocas para o beijo nascido do desejo O encontro começa pelo olhar, o desejo completa-se na boca. Não está na pauta dos tempos que correm o prazer de simplesmente estar. Perdeu a graça e o poder de encantar. Preenchida pelo silêncio ouço grilos e vejo luzes pirilampas A onda do mundo pegou- me num arrastão. Esta angústia que nem o sol espanta, dias de cura em doses homeopáticas, conversa com o Santo Anjo da Guarda, os pés à beira mar, redondilhas de ondas miúdas... Sinto falta nem sei de que, se tenho tudo. A falta de reciprocidade Não sei se espero demais ou de menos, sei que não devo esperar. — Onde me situo? Creio que sinto mesmo é saudade sem endereço certo. — Onde está o futuro do passado? — O presente que mal se escreve, apaga? Em tudo tem tanta beleza A natureza é harmônica. Vivemos anestesiados, estado de sono Entorpecidos pela alta velocidade que precipita os fatos Avoados perdendo coisas Devo guardar o essencial, a consciência. Quando oro anjos preenchem-me Num instante, torno-me a leve menina distraída na imaginação Ouço “Luar do Sertão” Tem pai e mãe, viola que chora acende meu coração o latãozinho de leite gordo o tropeço na pedra do caminho a fábula de Monteiro Lobato a barranca do rio o rachado da lama. Há seca ou o tempo chora convulsivamente. Inunda o espaço, alaga. A saúde da terra no mato intocado A bulha dos passos mansos adentrando ao sagrado. Ali havia um rio Colhemos jaca e foi uma festa. Pena que tinha mutuca O Vale intocado, espraio o olhar atrás do Morro dos Segredos. Quando cozinho medito. As ervas têm alma e perfumam atiçam o sabor. Vejo estrelas na água que ferve no fogão, varro sapos e lagartixas para fora, onde o quintal chama E o gato espera. Não sou o que penso que sou. Escapo por um buraco no céu, fico tonta e danço, giro do dervixe. Entorpeço-me de espaço Crio para estar com Deus O ouço no céu e no mar. Assim o tempo acontece... A vida é só o que passa. Queimo na lenha do corpo e alma A pequenez do meu ser E nada sou, livre no éter Nas linhas da mão o traço é luz. Ilumina o silêncio, clareia o mistério, trabalho a sombra E me refaço. Mesmo assim, estou em falso A menina que fui envelheceu.