É o que acontece na vida de muita gente. Na minha, inclusive. Nossas existências são assim: cheias de altos e baixos. Temos até nossos momentos de júbilo e felicidade. Só que não dá para ser feliz todo tempo. Então, vivemos também fases de desconforto quando as coisas não acontecem como queríamos. Mas na maioria do tempo estamos ali no nem lá e nem cá. A vidinha corre marrenta e sem picos no gráfico.
Enganaram-se imaginando que o tema de hoje seja acerca dessas idiossincrasias da vida: os altos e baixos. Nada disso. Estou me referindo aqui a algumas pessoas que gozam de minha estima.
Tenho amigos que são pequeninos. Um monte deles. Outros, em menor número, são espigados e exigem uma fita métrica quase inteira para lhes tirar a medida do pé ao cocuruto. A maioria dos meus camaradas não é uma coisa nem outra, altura mediana, como o escrevinhador aqui que passa um tiquinho de nada de 1,74m. E hoje não vou me ocupar desses meus vizinhos na escala métrica. Vou me dedicar só aos altos e aos baixos.
Começarei por essa turminha que calça no máximo 37. Todos eles regulam de tamanho e não me é possível estabelecer uma ordem, quer seja ela crescente, quer seja decrescente. Vamos, portanto, recorrer ao aleatório. Comecemos pelo Zé Nunes. Veio lá de Serraria esse baixinho. Jornalista por ofício, poeta, cronista por paixão, abraça a literatura com a volúpia de um amante fervoroso. Gosto de ler as crônicas e me deleito com a poesia desse meu homenageado. Acadêmico lá na casa de Coriolano de Medeiros, ao que me consta, é o menor dos imortais daquela vetusta edificação.
Outro baixinho danado é o Augusto Moraes. Esse pequenino Dom Quixote empunha seu guarda-chuva com a mesma altivez do cavaleiro errante de Cervantes. Não deixa de estar com esse apetrecho, faça sol ou faça chuva, seja dia, seja noite. Há muito mistério no artefato. Uns dizem que se trata de uma arma perigosa e letal. Garboso e imponente, gravita sempre ali pelo Centro Histórico com seu andar acelerado e austero, como fizesse hora de salvar alguma Dulcineia, pequenina também como ele. Um defensor intransigente de nosso patrimônio histórico. Um danado!
Wilson Figueiredo não dá para esquecer. Suas esculturas em aço espalhadas por nossa Filipeia testemunham seu talento e o ineditismo de suas obras. Difícil mesmo é descobrir como aquela criatura, digno representante da plêiade de baixinhos, consegue produzir uma escultura em metal três vezes maior do que ele. E os quadros com arame sobre a tela num experimento visual belo e incomum? Não bastasse esses atributos, WF é um exímio contador de causos, o que o faz mentiroso de rara competência.
Tem também o Zé Ronald, contista, romancista e contador de causos. Ainda que seja um físico laureado e devidamente doutorado, advogado também, dedica-se à ficção na literatura. Mas ao contrário de outros com o mesmo viés artístico, Zé Ronald é incapaz de mentir. Esteve algumas vezes comigo no cariri paraibano, onde pudemos encontrar um grupo de sacis. Nas vezes que encontramos essas criaturinhas distribuímos rapadura, mel de engenho e de abelha, pipoca, amendoim assado e cozinhado, fumo de corda e algumas meiotas de cachaça. Pois Zé foi minha testemunha e quem deu fiança à minha narrativa.
Dos grandões, começo com Chico Pinto. Aposentou-se do jornalismo e da boemia. Hoje se ocupa em vender colchões e a perturbar o Zé Nunes. Aprecio ouvir as histórias desse Chico (Chico é o que não falta por aqui), dos tempos de jornalista quando colecionou um admirável repertório daqueles fatos cujas lembranças, quando contadas por ele, movimentam alguns músculos de nossas faces, aqueles entre a testa e o queixo. Já entenderam, não é? Fazem-nos rir; e muito!
Um outro dessa turma foi o Martinho Moreira Franco. Infelizmente foi falar com Deus uns três anos depois que o conheci. Mesmo assim, convivi o bastante com esse grandão para admirar sua pessoa e seu texto. Hoje, muitos aqui (inclusive, eu) estão tentando recolher suas crônicas e editá-las em livro. Poucos anos tivemos para que pudéssemos desfrutar de uma mútua admiração. Lamento essa brevidade.
Não poderia esquecer uma emblemática figura dessa patota: o físico-professor-cineasta-etc Mirabeau Dias. Um aguerrido defensor de nossa história, de nosso patrimônio, de nossas tradições mais caras. Um competente fazedor de amigos que gosta reunir seus confrades no perímetro de sua távola retangular para acalorados debates. Além dos amigos, livros, documentos raros, coleciona desde carros antigos até Estampas Eucalol. Ficou faltando aqui o Willis Leal. Não tive o prazer de conhecê-lo, mas se depender de Mirabeau a obra desse outro grandão – o Willis – será devidamente reconhecida e preservada. É só aguardarmos.
É só isso por hoje: estão aí alguns de nossos altos e baixos.