Um dos processos mais interessantes de formação de palavras, a reduplicação, não é tão pouco produtivo quanto sugerem as gramáticas. Chama-se reduplicação o processo pelo qual uma sílaba se repete total ou parcialmente para formar um novo vocábulo normalmente de sentido igual ao do vocábulo primitivo. Não se trata exatamente de uma composição, já que é apenas uma sílaba que se repete, mas os estudiosos que analisaram a reduplicação incluem-na entre os processos de composição vocabular. Do verbo saltar, por exemplo,
por reduplicação da sílaba tônica, forma-se saltitar; de pular forma-se pulular. Esse processo, contudo, parece pouco produtivo, porque se restringe basicamente à formação de hipocorísticos ou de onomatopeias. Hipocorístico é o nome que se dá a qualquer palavra criada para denotar carinho ou afetividade, sobretudo no âmbito familiar, como Zezinho, Didi, etc.
A reduplicação nos hipocorísticos se forma a partir da sílaba tônica, mas de maneira curiosa: tudo o que vem antes da sílaba tônica e depois da vogal tônica é suprimido para dar lugar à sílaba repetida, e a repetição da sílaba se faz para a esquerda da palavra. Assim, para formar Lili, do nome Alice, suprime-se tudo o que vem antes da sílaba tônica –LI- (a vogal A) e também o que vem depois da vogal tônica (a sílaba CE), e acrescenta-se, para trás, a silaba LI. Por que para trás? Expliquemos: na palavra pai, por exemplo, suprimimos a semivogal —I— que vem depois da vogal tônica, e temos PA, que escrevemos à esquerda de pai para formarmos papai. Se a reduplicação se fizesse para a frente, teríamos paipá ou paipai, e não papai.
Para formarmos Didi utilizamos a sílaba tônica de Benedita ou de Waldir, por exemplo, repetindo-se ela para a esquerda, desprezando-se os sons anteriores à sílaba tônica e os posteriores à vogal da sílaba tônica. Da mesma forma, de José se forma Zezé; de mãe, mamãe; de tio, titio (sempre desprezando o que está à direita da vogal tônica para termos a sílaba que se repete). Outros exemplos: vovô (avô), Vavá (de Valter), Janjão (de João, a partir da pronúncia jão e, portanto, de Jã, desprezada a semivogal do ditongo –ão), Cacá (de Carlos), Mimi (de Emília), Cici (de Cecília), etc.
Na linguagem infantil, são comuns os nomes com sílabas reduplicadas, não apenas com relação a parentes (pai, mãe, tios, avós...): xixi, pipi, mimi (dormir), cocô, dodói, naná, bumbum, popô, etc.
Às vezes, a reduplicação incide na sílaba tônica de um nome reduzido ou de um outro hipocorístico. De Eduardo, por exemplo, temos, primeiramente, Edu, a partir do qual se forma Dudu; de Luís, temos Lu, primeiro, para depois termos Lulu.
É pela reduplicação que se explicam formas como nhonhô (de senhor), nhanhá (de sinhá, feminino formado a partir de sinhô), iaiá, ioiô, etc.
Algumas onomatopeias se formam a partir de reduplicações: pingue-pongue, zigue-zigue, tique-taque, toque-toque, zigue-zague, zum-zum, etc.
Por extensão, chama-se reduplicação também à repetição de nomes inteiros na formação de vocábulos: ruge-ruge, tico-tico, teco-teco, corre-corre, pula-pula, bate-bate, etc. Quando a reduplicação de nomes inteiros é de ordem sintática e não forma palavras novas, recebe o nome de epizeuxe e pode ser usada como superlativo: Ele é rico, rico (=riquíssimo), Ele fez um gol lindo, lindo (=lindíssimo), Logo, logo ele vai sair, etc.
Vê-se que a reduplicação não é tão pouco produtiva assim...