A cordilheira dos Andes guarda memórias que contam histórias peculiares. Os incas que reinaram ali por séculos acreditavam que vulcões eram deuses, com suas erupções extraordinárias e sinais de fúria frequente. Aquele povo pensava que seria necessário entregar uma vida em oferenda para acalmar a ira do gigante do tamanho de uma montanha.
A oferenda, em forma de ritual, chamado Capacocha, consistia em entregar jovens em sacrifício para o mundo das divindades. Juanita foi uma delas, sepultada há 600 anos no pico de uma montanha com seis mil metros de altitude. A geleira conservou seu corpo, hoje exposto no Museu Santuários Andinos na cidade de Arequipa, no Peru.
Lamentável decisão de uns poucos malucos sobre o tempo de vida de frágeis jovens pertencentes às famílias da comunidade daquela época.
Penso em nossos ancestrais que estiveram aqui, há 100 anos, e que já estão no último estágio da viagem ao infinito, onde suas almas devem estar de butuca, rindo do esforço que, diariamente, realizamos para, à noite, simplesmente dormir. Desejo que você tenha ao menos sete horas diárias de paz entre travesseiros e lençóis à sua espera.
Se os peruanos encerraram aquele ritual desagradável a seu povo, por que no Brasil seguimos praticando comportamentos racistas muitas vezes criminosos?
Segundo pesquisa Datafolha, inédita, da série Afeto em Preto e Branco, 85% dos brasileiros adultos afirmaram que a cor da pele não interfere em relacionamentos amorosos. Um desses "diagnósticos do tempo" mais triviais e vulgares corre à conta da assertiva de que é o ritmo de nossos dias a causa do ser humano se encontrar assim doente.
A culpa não é do ritmo. É o próprio ser que deseja acelerar antes, ao invés de pensar.
"Enquanto a média das pessoas se equilibra sobre supostas certezas, o filósofo encontra segurança em suas incertezas" (Lúcia Helena Galvão). Um dia vamos morrer, mas todos os outros não. Por isso não consigo encontrar diferenças entre os que respiram igual a mim, e que possuem sonhos e olhares semelhantes.
A responsabilidade coletiva nos torna ainda mais eficazes no combate ao racismo e aos racistas. Frequentes mudanças promovem saudáveis ações.