Quando eu for morrer
Gostaria que fosse
Como soltar os cabelos
Na janela ao vento
Meu gato me olhando
Nos olhos
E a solidão
Do Sol se pondo
Um sax
Gemendo à noite
E as estrelas
Brilhando de euforia
Ruas antes desertas
Habitadas
E a festa
Dos pirilampos
Quando eu for morrer
Quero ser como as sementes
Velhas
Esquecidas
Enrugadas pelo tempo
Mas que plantadas
Haverão de ressurgir
E florescer
Quando eu for morrer
Também haverá
Alegrias
Não vistas as cores
Dos dias que não queres
Nem o marrom
Da indecisão
Flutuar é bom
Se a alma está
Liberta
Pedras não foram
Feitas pra tropeçar
Mas para compor Pejis
Os Santos não fazem milagres
Eles só dormem com você
Para lhe mostrar caminhos
As preces
Precisam de carinho
Para chegarem aos Deuses
E eles
Lá onde estão
Somos nós onde queríamos estar
Em cada casa
Um botão
E a mão chuleia
As duas abas
Da camisa
Camas dadas
As brechas
Acesas
A madrugada
Nua a noite inteira
O sol desponta
Galo que grita
Gemido adormecido
O sonho que não houve
E o arco-íris e seu pote dourado
Alado o som
Atravessa a garganta
Que canta ninares
Mas que deseja
Outro som
Raspado
De novo
Na garganta
Como um blues
De Tom Waits