Em recente conversa informal entre o cronista Gil Messias , o pensador Mirabeau Dias, o crítico de artes e colecionador Clóvis Dias, ...

Padaria Espiritual: um movimento literário-político vanguardista no final do século XIX em Fortaleza

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Em recente conversa informal entre o cronista Gil Messias, o pensador Mirabeau Dias, o crítico de artes e colecionador Clóvis Dias, e este autor, surgiram indagações sobre o movimento artístico e literário-político cognominado “Padaria Espiritual” que teve vida de 1892 a 1898, organizado por jovens intelectuais cearenses, idealistas ousados que pensavam em “mudar o mundo pela inovação na literatura, nos costumes e nas artes em geral”.

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Fortaleza, no final do século XIX.
Confesso que o tema me atrai até mesmo quando abordado de maneira ocasional como agora. Em vista disso, fisgado por suas singularidades e por sua proposta de mudança, resolvi visitá-lo uma vez mais. Estes aspectos o transformaram, de maneira inequívoca, em assunto de referências fortes, sempre na mira de estudiosos e pesquisadores, bem no foco do interesse acadêmico, em particular.

Em vista disso e para dar pano a esta enriquecedora conversa entre amigos, logo me interessei em explorar em pequeno ensaio algumas realidades e subjetividades referentes à agremiação, seus membros, seus feitos e ações subversoras abrigadas sob tão esdrúxula organização, cuja memória, o próprio tempo não conseguiu obliterar.

Para esses jovens, o movimento “Padaria Espiritual” ao qual deram vida com humorada e incisiva aplicação, importante era o sonho de, por nova estética na literatura, nas artes, nos costumes e na renovação do pensamento político, metaforicamente “prover alimento para o espírito, em contraposição à atitude burguesa de atender somente às exigências materiais dos povos”.

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António Nobre ▪ 1867—1900
O movimento logo ganhou visibilidade nacional e repercutiu em Portugal e na França especialmente através de António Nobre (1867-1900), poeta e escritor português, com quem membros da “Padaria Espiritual” mantinham contato, auxiliados por facilidades proporcionadas por navios cargueiros em trânsito entre Fortaleza e Liverpool em razão do comércio de algodão.

Com relação à compreensão do que foi o fenômeno “Padaria Espiritual”, observo que “padaria” sugere alimento; que sugere pão; que sugere forno; que sugere padeiros e uma gama de outros requisitos, entre tais, ter “padeiro-chefe”, lugar onde se reunir, plano de ação e produtos.

Cientes disso efetivam como líder, o jovem poeta e romancista Antonio Sales que propõe um “programa de instalação”, de 48 itens, passando o movimento a atuar conforme o que aí se pactuava. Nesse “simulacro de estatuto” foram estabelecidos o ideário e os rumos que seguiriam.

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Padaria Espiritual, c.1894 ▪ Em pé (ESQ ⇀ DIR): Artur Teófilo (LOPO DE MENDOZA), Sabino Batista (SATYRO ALEGRETE), José Nava (GIL NAVARRA), Rodolfo Teófilo (MARCOS SERRANO), João Lopes de Abreu (ANATOLIO GERVAL), Ulisses Bezerra (FRIVOLINO CATAVENTO) e Antônio de Castro Vidal Barbosa (AURÉLIO SANHASSU) /// Sentados: José Carvalho (CARIRY BRAUNA), Almeida Braga (PAULO GIORDANO), Valdemiro Cavalcanti (IVAN D'AZHOFF), Antônio Sales (MOACYR JUREMA), José Carlos da Costa Ribeiro Júnior (BRUNO JACY) e Roberto de Alencar (BENJAMIN CAJUHY) ▪ Fonte: Mário Linhares (História Literária do Ceará, 1948), via Academia Cearense de Letras).
Por estratégia, os “padeiros” não poupavam de suas críticas os governos, os padres, os políticos, o conservadorismo, a burguesia e tudo o mais que não coubesse na sua cartilha vanguardista.

Apesar de deterem conhecimento sobre diferentes correntes do pensamento filosófico, científico e tecnológico [iluminismo (século XVIII), positivismo (séculos XIX-XX), darwinismo-mendelismo (século XIX) e outros] aos quais não se opunham, mas eram críticos, a luta capital dos “padeiros” era por um pensamento nacionalista e por uma literatura desvinculada do romantismo.

Praça do Ferreira, Fortaleza, 1920s
Por sua vez, ao contrário do que costumava acontecer, esses jovens irreverentes, provocadores e independentes, por coerência de princípios e estratégia, não atrelavam o movimento, nem suas atividades, a apoios do poder público. Autônomos, escolheriam como sede um café-restaurante popular, situado na Praça do Ferreira, no centro antigo de Fortaleza, transformando-o em trincheira de suas operações.

Dentre quatro cafés situados na grande Praça (Café Elegante, Café Iracema, Café do Comércio e Café Java), este último já era ponto de encontro de boêmios, artistas e literatos e também lugar onde se debatiam as novidades das letras e artes foi o escolhido para sediar as reuniões destes militantes. Empolgados e criativos, a partir deste local, servindo-se sempre de humor ácido, mas inteligente, visando a atrair atenções, o grupo idealizava e aí discutia suas ações, fossem propagandas, caracterizações, anúncios, exibições, artigos de jornais e revistas, livros e tudo mais que lhe conviesse.

(1) Café Elegante ▪ (2) Café Iracema ▪ (3) Café do Comércio ▪ (4) Café Java — Fonte: PM/For
Fluía o papo e meus amigos e interlocutores, de maneira bem humorada, me indagaram:

⏤ “Como bom cearense, ex-seminarista e amante das letras, o que você sabe sobre a Padaria Espiritual”?

E sutilmente críticos comentaram:

“Padaria” e “Espiritual”, que estranha conjunção de elementos!

⏤ Fale-nos sobre isso!

E não parariam por aí. Levantaram outras questões interessantes como:

⏤ Apesar do lapso temporal entre ambos e da dimensão de cada um, poder-se-ia enxergar alguma correlação ou semelhança entre “Semana de Arte Moderna de 1922” e “Padaria Espiritual” (1892-1898), movimentos vanguardistas e de protesto, desproporcionais, mas assemelhados?

De plano, afirmei que não. São bem díspares, no tempo e no espaço, os ambientes socioespaciais, econômicos e culturais em que cada um surgiu. Sem dúvida, os propositores da “Semana de Arte Moderna”, antes de realizá-la, não só visitaram diferentes regiões do país, como, por certo,
prospectaram sua atmosfera cultural, colhendo informações importantes que pudessem lastrear a recepção de suas ideias e propostas revolucionárias.

Observe-se que o surgimento da “Padaria Espiritual” se deu final do século XIX, em cidade de ambiência ainda provinciana e de campo artístico pouco desenvolvido. A esse tempo, a cidade de Fortaleza tinha apenas 40 mil habitantes. O Ceará, contudo, sempre se destacou nas letras e artes, legando, desde o século XIX e princípio do século XX, escritores, artistas plásticos e musicistas de destaque nacional, a exemplo de José de Alencar, Raquel de Queiroz, Domingos Olímpio, Clóvis Beviláqua, Adolfo Caminha, Lívio Barreto, Rodolfo Teófilo, Antônio Sales, Vicente Leite, Raimundo Cela, Aldemir Martins, Antônio Bandeira, Sinhá D'Amora, Chico da Silva, Luiz de Sá, Eliezer de Carvalho, Alberto Nepomuceno, dentre tantos outros.

Observe-se também que o Ceará, com algumas casas de espetáculos, começa cedo a plantar as sementes de um campo artístico que viria a se robustecer com a inauguração do Teatro Concórdia, em Fortaleza, em 1830; com o Teatro da Ribeira dos Icós, em Icó, fundado em 1860; com o Teatro São João, em Sobral, datado de 1880, e com o monumental e belo Teatro José de Alencar, inaugurado em 1910. As cidades de Icó (360 km de Fortaleza), capital do Ceará por curto período de tempo, durante a Confederação do Equador (1824), e Sobral, a 240 km, importante polo regional de negócios, mantêm ativas até hoje essas históricas casas de espetáculos.


Ao tempo da criação da “Padaria Espiritual”, a ausência de cursos de formação superior no Ceará, bem como de agremiações ou instituições culturais de maior expressão capacitadas a fortalecer o campo artístico local. A primeira Faculdade seria a de Direito, fundada só em 1903.

Com o surgimento da “Padaria Espiritual” em 1892 e a Academia Cearense de Letras em 1894, a cultura nacional, de certo modo, voltaria olhares para o Ceará, pois, curiosamente, a Academia Brasileira de Letras só seria fundada em 1897, três anos depois da Academia Cearense de Letras e cinco anos após a criação da “Padaria Espiritual”, fatos que não deixariam de despertar emulações.

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Notícia sobre a instalação da Padaria Espiritual na primeira página do jornal A República, de Fortaleza, edição do dia 18 de maio de 1892 ▪ Fonte: Biblioteca Nacional
Com a criação do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico em 1887, o Ceará, em mais um salto importante, se anteciparia em data de fundação, a muitos de seus congêneres, Brasil afora: Bahia (1894); São Paulo (1894); Santa Catarina (1896), Minas Gerais (1897); Pará (1900); Paraíba (1905); Sergipe (1912), Espírito Santo (1916); Amazonas (1917); Mato Grosso (1919), Rio Grande do Sul (1920), dentre outros. A referência para a criação desses “institutos regionais” seria sempre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB, de forte inspiração francesa, fundado no Rio de Janeiro em 1838.

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Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico, conhecido por Instituto do Ceará, fundado em 4 de março de 1887, sediado no Palacete Jeremias Arruda, na Rua Barão do Rio Branco, 1594, no centro de Fortaleza — Fonte: IC
Em meio reconhecido como de atraso econômico e sócio-educacional, a expressão “Padaria Espiritual”, por construção linguística e para apregoar movimento que propunha ruptura, com efeito, causaria arrepios, soaria perturbadora e até muito bizarra.

Neste aspecto, a pertinência das questões postas por meus interlocutores induziu-me a uma necessária inflexão. Refleti e por um instante também me questionei: — O que, de fato, teria a ver a materialidade ordinária das massas de padaria com as carências do espírito a que se referiam esses moços? — A que química recorriam os visionários intelectuais cearenses? Estas são interrogações em torno das quais, sem dúvida, muito ainda se precisa filosofar e investigar.

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Notícias sobre a Padaria Espiritual no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, na década de 1890 ▪ Fonte: Biblioteca Nacional
A certa altura da conversa, intuí que meus interlocutores se mostravam não somente curiosos, mas reticentes, ante a extravagante reunião de termos a formar a curiosa expressão. “Padaria Espiritual” mais parecia forçação de barra, astuta jogada de marketing ou irreverente tirada de humor, habitual entre esses provocadores e independentes “padeiros”, como gostavam de ser chamados.

Sorri e me expressei sem modéstia alguma: ⏤ sobre “Padaria Espiritual”, detenho um bom bocado de informações, caros amigos, mas nada sistematizado. ⏤ Afinal, a que servem os predicados “cearense, ex-seminarista e amante das letras” que carrego? E de pronto acrescentei: cearenses do meio intelectual amam falar, escrever, pesquisar ou debater sobre a “Padaria Espiritual”, movimento extinto há 125 anos, mas que “ainda se mantém vivo, instigante e inspirador de outros conhecimentos”, observa o estudioso Sânzio de Azevedo que elaborou tese de doutorado sobre o tema.

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Sânzio de Azevedo

Assim, uma simples visita ao tema seria como degustar algumas malgas do “pão” que essa “Padaria” produziu com empenho, irreverência e humor e que estão documentadas em 26 edições do seu jornal oficial denominado “Pão”, que publicou mais de 200 poesias e 60 narrativas. Registram-se também publicados por outros veículos, inúmeros artigos, entrevistas e livros que acervos e arquivos oficiais e particulares de Fortaleza e outros lugares conservam.

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Primeira edição do jornal O Pão, editado pela Padaria Espiritual em 1892. ▪ Fonte: Biblioteca Nacional
Desde seus primeiros tempos, a história cultural do Ceará se notabilizou pela presença de movimentos e grupos literários. Esses grupos sempre tiveram participação marcante na formação do campo artístico cearense, sendo a literatura, em especial, sempre caracterizada por florescer em torno deles. Em destaque a atuação de grupos antigos como Outeiros (1812), Padaria Espiritual (1892) e Grupo Clã (1943) e entre os mais recentes, o Grupo Sin de Literatura (1970), Grupo O Saco (1976) e Grupo Siriará (1979) dentre outros.

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Grupo Clã, reunido na casa do jurista e escritor Fran Martins. ▪ 1940s ▪ Fonte: Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará
Bem mais informal enquanto grupo na formação do campo artístico local, vamos encontrar o grupo musical Pessoal do Ceará (1967) que incluía os cantores-compositores: Belchior, Fagner, Ednardo, Amelinha Collares, Fausto Nilo, Jorge Mello e outros que, pela qualidade e originalidade do seu trabalho, e migração para o Sudeste, ganhou visibilidade, marcando densamente a cena artística nacional, em décadas ainda recentes.


Deste ponto em diante, em novas conversas entre o cronista, o pensador, o crítico de artes e este escriba, a questão foi ganhando outros rumos. Gerou apresentação para o Grupo Mirabeau Dias de Estudos e Debates, onde seguindo roteiro proposto por mim, se fez exposição sobre o que foi, como se desenvolveu, o que produziu e deixou como legado, este efêmero, mas prolífero movimento literário-político, estranhamente denominado “Padaria Espiritual”.

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Notícias sobre a Padaria Espiritual no jornal Correio Paulistano, de São Paulo, na década de 1890 ▪ Fonte: Biblioteca Nacional
Assim, apesar da curta atuação de seis anos que o movimento teve, não economizo para afirmar que a “Padaria Espiritual” foi, de fato, um acontecimento fora da curva, extraordinário e original, de proposições de mudanças no campo das letras, artes e costumes, a partir de um Ceará ainda culturalmente bastante distante da concertação cultural nacional.

Na verdade, a Padaria Espiritual foi uma agremiação cultural das mais singulares dentre muitas que o Ceará conheceu e, de fato, mexeu com o meio intelectual na cidade de Fortaleza, na última década do século XIX, com reflexos que provocaram repercussão junto ao mundo artístico e literário em diferentes centros culturais do país. A atenção foi tanta que diversos jornais de outros Estados publicaram na íntegra o programa de instalação da agremiação.

Quem foi “padeiro” e qual a principal obra legada por cada um? A Biblioteca da “Padaria” as registrou: Phantos – de Lopes Filho (1893); Versos – de Antônio de Castro (1894); Flocos – de Sabino Batista (1894); Contos do Ceará – de Eduardo Sabóia (1894); Cromos – de Xavier de Castro (1895); Trovas do Norte – de Antonio Sales (1895); Os Brilhantes – de Rodolfo Teófilo, (1895); Vagas – de Sabino Batista (1896); Dolentes (póstumo) – de Lívio Barreto (1897); Marinhos – de Antônio de Castro (1897); Maria Ritta – de Rodolfo Teófilo (1897), Perfis Sertanejos: Costumes do Ceará – de José Carvalho (1897); Violação – de Rodolfo Teófilo (1898), dentre outros.

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Fonte: BN

Estudiosos do tema afirmam que em sua curta vida a “Padaria Espiritual” conheceu duas fases: a primeira, de inflamada rebeldia e militância, e que se estendeu de 1892, ano em que foi fundada com 20 membros, até 1894, quando foi reorganizada; a segunda fase se iniciou com essa reorganização, incorporando mais 14 membros, e teve duração até 1898. A extinção do movimento se daria nesse mesmo ano, em razão de discordâncias internas, novos rumos laborais de uns, ciúmes e intrigas de outros, mudança de domicílio de alguns para Rio de Janeiro.

Quanto às especulações sobre possível correlação entre “Padaria Espiritual” (1892-1898) e “Semana de Arte Moderna de 1922”, a professora Aíla Leite Sampaio, da Universidade de Fortaleza, doutora em literatura comparada e cinema, é categórica ao afirmar que “é importante entender que estes foram
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movimentos distintos, sem interseções ou influências diretas entre ambos”, apesar de assemelhados.

Despojada, a agremiação elege como sede um ambiente popular, um bar-restaurante no centro de Fortaleza, conhecido por ser lugar onde boêmios artistas e literatos se reuniam para discutir as novidades das letras na época, 30 anos antes da “Semana de Arte”.

Por seu turno, a “Semana de Arte Moderna” vai se caracterizar como movimento de grande dimensão, preparado com requinte, voltado para a literatura, pintura, escultura e música, organizado por intelectuais e artistas que também buscavam por transformações, mas que contrariamente ao movimento cearense, teve o patrocínio nada discreto da elite cafeeira paulista, e se realizou em ambiente socioeconômico e cultural bem diferente daquele da “Padaria Espiritual”.

Desta forma, revisitar o tema e analisá-lo com isenção, além de impulsionar descobertas, nos leva à conclusão de que ainda há muito a ser elucidado com referência a este movimento, o que com certeza irá influir na revisão de interpretações porventura equivocadas, bem como em contribuir a olhares a respeito de um Brasil do passado e do contemporâneo.

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Seria possível mensurar os reflexos em nosso cotidiano a partir da compreensão sobre o que, de fato, representaram tais movimentos? Estes, no meu entender, são questionamentos ainda sem respostas satisfatórias que os estudos e a pesquisa continuarão a investigar.

Na apresentação do livro Padaria Espiritual - Biscoito Fino e Travoso, Museu do Ceará, 2ª edição, 2022, de Gleudson Passos, o pesquisador da cultura cearense, Gilmar de Carvalho (1949-2021) refletiu sobre esta agremiação, afirmando que o grupo da Padaria Espiritual diferentemente do que alguns pensam, “vai representar a emergência das camadas médias da sociedade”. “Padaria Espiritual” e “Semana de Artes de 1922” são movimentos distintos; não há intersecções ou influências diretas entre eles, embora não se possa deixar de ver algumas semelhanças no papel que tiveram.

Amparado em referências bibliográficas que compulsei, afirmo que o movimento “Padaria Espiritual”, enquanto tema de estudos e pesquisas, se caracteriza como assunto complexo, de conteúdo denso, polêmico, instigante e inesgotável, e de peculiar papel enquanto iniciativa cultural popular, mantendo-se ainda inspirador e inesgotável, mesmo depois de ser objeto de tantas abordagens por livros, monografias, dissertações, teses, artigos de jornais e revistas e trabalhos livres que já o tomaram por sujeito
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Lívio Barreto ▪ 1870—1895
de estudos em universidades, institutos, academias, grupos de discussão, na imprensa de um modo geral, na composição musical e no audiovisual, mesmo depois de tantas décadas de sua extinção.

A importância do movimento se deu pelo fato de ter proporcionado a consolidação do Realismo e o nascimento do Simbolismo, do qual o cearense Lívio Barreto (1870-1895), com o livro Dolentes se torna um expoente. E Sânzio de Azevedo sustenta, “o simbolismo cearense, com influência de António Nobre, foi contemporâneo (e independente) da escola do Sul do País, como defendemos em nossa tese A Padaria Espiritual e o Simbolismo no Ceará (1983)”.

O professor doutor João Batista Lima, outro estudioso do assunto, observa que a “Padaria Espiritual ainda hoje é fonte de inspiração na literatura e na imprensa cearense e que mesmo após o fim da agremiação, surgiram movimentos irreverentes, inspirados nela, como a revista Cipó de Fogo impressa em edições do jornal O Povo, e os movimentos Siriará e Ceia Literária, este último apontado como muito assemelhado à Padaria Espiritual.


Para finalizar, em vista da leitura de um Padaria 2, creio que já bem mais informados pela leitura deste Padaria 1, de pronto, conclamo leitoras e leitores a nova visita, em dias futuros, a este Ambiente de Leitura Carlos Romero que, competentemente, acolhe autores e textos, os apresenta e gera oportunidades de compartilhamento.

Não se chega à toa a 15.000 trabalhos divulgados. Só com dedicação e muito trabalho! Nosso reconhecimento, nossos agradecimentos e parabéns a Germano Romero, a Davi Lucena e a toda a equipe envolvida, pela admirável contribuição à cultura, literatura e artes, a partir de João Pessoa.

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  1. Como sempre, o autor nos traz um texto informativo e instigante. O geógrafo/historiador compartilhando seus saberes, fruto de pesquisas criteriosas. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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  2. Caro Modesto,
    Sua descrição dos fatos históricos e dos marcos geográficos é fascinante.
    Sua narrativa deve ser degustada aos poucos, como uma boa iguaria caseira preparada com o carinho de nossas mães.
    Parabéns pelo delicioso tema escolhido, com o resgate de um movimento literário especial para o estado do Ceará e para o Brasil.
    Obrigado pela deferência ao Ambiente de Leitura Carlos Romero, que se enobrece pelo trabalho de vocês, cronistas, historiadores, escritores e poetas.
    Grande abraço.
    Davi Lucena

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