Há quem escarneça de Nietzsche por ele ter abraçado e beijado um cavalo que era espancado pelo cocheiro.
O episódio ocorreu em janeiro de 1889, em Turim, na Itália, quando o escritor saiu de um hotel e testemunhou o animal apanhar. Perturbado pela cena, Nietzsche correu até o cavalo e o abraçou com afeto, desabando a seguir num choro copioso. Seu comportamento foi atribuído a uma crise nervosa e é considerado como o início de sua "incapacitação mental".
O episódio ocorreu em janeiro de 1889, em Turim, na Itália, quando o escritor saiu de um hotel e testemunhou o animal apanhar. Perturbado pela cena, Nietzsche correu até o cavalo e o abraçou com afeto, desabando a seguir num choro copioso. Seu comportamento foi atribuído a uma crise nervosa e é considerado como o início de sua "incapacitação mental".
É previsível que, num mundo embrutecido, quem tem empatia pelos animais seja declarado louco. O mesmo ocorreu com Francisco de Assis, que foi tido como mentalmente insano por abandonar uma vida de privilégios para pregar uma mensagem de simplicidade, amor ao próximo e respeito à natureza e aos animais.
Para quem enxerga tudo à sua volta apenas como um recurso, a empatia, de fato, não passa de loucura. Para uma sociedade contaminada pela exploração, especulação, produtivismo e pragmatismo, todas as ações e escolhas que contrastam com a busca por riqueza, status e poder, parecem insanidade.
Em termos científicos, o termo "loucura" não é mais usual. Utiliza-se hoje a expressão "transtorno mental" para definir a condição de saúde que envolve alterações no modo de agir, no pensamento e nas emoções e que se caracteriza por alucinações, delírios, comportamentos desorganizados e pela desconexão com a realidade imediata. Evidentemente, aqueles que sofrem de patologias mentais devem ser atendidos e tratados, de acordo com todos os recursos disponíveis.
A crítica e a rebeldia de Nietzsche têm como alvo a desumanização e a irracionalidade que contaminam as relações sociais.
Considerar como mentalmente enfermos aqueles que não se adequam a normas injustas e que se opõem à violência é um modo de marginalizar e punir objetores de consciência.
Em "O Alienista", Machado de Assis nos apresentou o personagem Simão Bacamarte, o psiquiatra que decidiu internar todos aqueles que considerava loucos. Já em "O Estrangeiro", de Camus, o protagonista Meursault é visto como louco por sua indiferença emocional e falta de conformidade às expectativas sociais.
Os brutos chamam de loucos aqueles a quem não compreendem. Em Mateus 5:22, Jesus ensina que a palavra louco não deve ser usada em sentido pejorativo, como uma ofensa.
Enxergar e sentir além do que a maioria vê e experimenta, não é insanidade. Em sua imensa sensibilidade, Nietzsche teve misericórdia do cavalo que sofria com a ignorância e crueldade do ser humano. Chorou por ele e por si, e lamentou, sobretudo, pela rutilância de quem não se compadece do sofrimento e é incapaz de valorizar a vida e sua beleza.
Condenaram Nietzsche por consolar um animal indefeso e ferido, como julgaram Francisco de Assis por bailar com o irmão vento entre os pingos de chuva. Nas palavras do próprio filósofo alemão: "aqueles que foram vistos dançando foram considerados insanos pelos que não podiam escutar a música."