“É quase ininteligível que uma nação com o desenvolvimento dos Estados Unidos fosse entregue à direção de um ser tão inadequado quanto...

O jovem Jânio de Freitas

janio freitas folha sao paulo jornalismo combativo
“É quase ininteligível que uma nação com o desenvolvimento dos Estados Unidos fosse entregue à direção de um ser tão inadequado quanto Donald Trump. E esteja ameaçada de repetir o desatino. Guardadas as proporções, o Brasil de Bolsonaro, a Venezuela de Maduro, a Argentina de Milei, apesar de tudo, não justificam tamanho desprezo do destino”.

É como reencontro o jornalismo de Jânio de Freitas, estranhamente despachado da Folha de S. Paulo onde alimentou consciências quarenta e mais anos seguidos. O parágrafo que abre este registro chega-me por conta de Paulo Emmanuel, um jovem da terceira geração de seus fiéis leitores que o resgata de publicação nova não sei se impressa ou virtual. Tão fiel quanto o nosso Frutuoso Chaves, outro cultor de carteirinha de Jânio.

A história profissional de Jânio se confunde com a da modernização em texto e forma da imprensa brasileira iniciada nos anos 1950. Guardo seu nome desde 1954 quando acerei a montagem de uma impressora rotoplana trazida de segunda
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Impressora rotoplana >CC0
mão para o jornal O Norte ao passar para a cadeia Associada de Chateaubriand. Andrea Zuccari, que fez a instalação, estranhou que um paraíba da redação não lhe desse a folga de um só dia no acompanhamento do seu trabalho. Ele de macacão, rigorosamente concentrado, sentindo-se incomodado ou vigiado com minha atenção curiosa por cada detalhe ou etapa da montagem. A máquina de A União era uma sueca de 1904 a depender de mão de obra na alimentação dos seus rolos. A que chegava com Zuccari dependia de um só impressor.

Desde cedo o trabalho gráfico me atraía tanto quanto o da redação. E Zuccari foi compreendendo e aceitando essa minha impertinência. E daquele homenzarrão severo em seus tratos e horários, nasce uma camaradagem e mesmo uma afinidade que durou além das circunstâncias dessa fase. Por ser mecânico, seu nível de leitura fora da especialidade me impressionava. Eu não me advertia fosse ele um imigrante florentino corrido do fascismo. É dele que me chega a primeira referência a Jânio de Freitas como o jovem desenhista de intimidade com o setor gráfico que terminou responsável pela nova diagramação da 1ª página do Diário Carioca de Danton Jobim e Pompeu de Souza

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Jânio de Freitas @Bob Fernandes
Atuando em vários jornais do Rio, Zuccari já divisava o horizonte a ser alcançado pelo rapaz que, por acidente esportivo, não ingressara como sonhava na aviação civil.

Não houve jornal ou revista de prestígio nacional que seu nome não tivesse contribuído para tanto. Desde cedo com Pompeu de Souza, Otto Lara Rezende, Alberto Dines, Armando Nogueira, Odilo Costa Filho, Nascimento Brito, este confiando a Jânio o ousado projeto de reforma para um novo Jornal do Brasil, que passa desde aí a escola ou universidade com lições didáticas editadas em revista especial para toda a imprensa brasileira.

Importa saber (e muito nos conforta) que o velho Jânio não foi despachado por não saber mais o que dizer, analisar e mesmo investigar, que era o que melhor sabia. No artigo que nos chega continua vigilante a cobrar dos poderes a dívida que a nação de legítimos credores não aprendeu a cobrar.

“O subdesenvolvimento no Brasil é sobretudo político – a começar por um Congresso que só olha para dentro e esquece do que é prioridade para o país”

É a chamada do editor para o novo colunista. Velho de 92 anos nos costados, novo a cada fase de sua atuação.

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