O Homem nos Ratos Nós somos os homens de ratos, Nós somos os homens nos ratos. Nosso corpo não é nosso corpo, Mas sim ...

O Homem nos Ratos

 
 

 
O Homem nos Ratos
Nós somos os homens de ratos, Nós somos os homens nos ratos. Nosso corpo não é nosso corpo, Mas sim um acaso de roedores que se reúnem em forma humana por pouco. Nosso corpo não é nosso corpo e nossos olhos não podem ver o terror nos que trazem pedaços de nossa figura contidos em seu interior: Somos os que comeram ratos antes de serem concebidos, Os que se alimentaram de ratos, não de maternos líquidos, Os que extraíram sua força de ratos, Os que na origem da própria carne não encontram mais que carne de ratos digerida, Os que possuem nos ossos, na força e na carne carne de ratos — transubstanciada em ratos porque sua concepção se originou de um desejo dos ratos que em nossas fotos de criança foram os retratados e que permaneceram os mesmos enquanto nosso fraterno eu original, Crescendo, sumia. Assim reunidos em grandes corporações, Roedores sendo cabeça, tronco e membros, Um susto nos desfaz soltos pelo departamento e nossos sentimentos convulsionados extinguem os poucos pedaços ainda humanos enquanto completamos nossa evolução para ratos. Nós terminamos aos pedaços enquanto existimos. Achamos que vivemos, mesmo perdendo pedaços para os vivos, E nos apegamos à certeza de termos rapidamente existido como ilusão de ótica que cresce mais do que os nascidos. Despojados de hinos de fé no trabalho, Somos animais precisos em um mundo falho que ninguém conhece, medrosos, A carícia e o risco nas superfícies dos olhos. Com os buracos do corpo sendo morada de ratos, Deveríamos eliminá-los: — Mas como, sem eliminar também os buracos? Com o corpo infestado de ratos, Deveríamos eliminá-los, como ao ânus, à vagina e ao falo? Com o corpo infestado de ratos de onde nascemos por acaso, Todos em seus buracos medrosos e não planejados, Todos enterrados em nossos buracos buracos com olhos de ratos, Que piscam e pulam como dados programados para o computador errado, Com o corpo nascido várias vezes por uma breve coincidência de ratos reunidos em Congresso Nacional pela privatização do Estado, Temos de aproveitá-los vezes e vezes até que aceitemos que lado a lado com a comida — de ratos — repousem — de ratos — as fezes. Somos homens formados por ratos cada vez mais. Quando elevamos os olhos para os velhos ideais é como se não olhássemos, Por não poder qualquer imagem da luz atingir uma pele secreta, E o que acontece é apenas uma caminhada de ratos — como flecha — que por acaso indica uma meta.

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