Há quem diga que a sociedade está se feminizando, e isso não é ruim. Segundo Freud, a civilização é fruto de...

O crepúsculo do machão

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Há quem diga que a sociedade está se feminizando, e isso não é ruim. Segundo Freud, a civilização é fruto de uma renúncia aos instintos, o que significa uma redução gradativa da testosterona (o hormônio masculino por excelência). A mulher tende a ser o modelo para o qual ser humano evolui na busca de uma sociedade mais pacífica e terna.

Feminizemo-nos, pois (mas sem exagero, é claro). É fundamental para a nossa permanência na Terra que nos libertemos cada vez mais de impulsos que tendem a nos empurrar para a barbárie. Como criar uma civilização evoluída em
termos artísticos e culturais explorando os fracos, desprezando os diferentes e invadindo países por ambição ou prepotência?

A verdade é que muitos homens hoje choram, vão a cabeleireiros, escrevem cartões em dias especiais e evitam palavrões gratuitos. Mas isso não significa que o machão esteja de todo extinto. Como toda transição, a do machismo para a feminização (evito o termo “feminismo” por sua conotação de militância política) se dá aos poucos. Ainda se encontram aqui e acolá sólidos redutos onde o machismo resiste com vigor e truculência, numa espécie de propensão simiesca que poderíamos chamar de “nostalgia da horda”.

Se o leitor duvida, basta olhar em volta (mas olhe com discrição; o que o machão mais detesta é ser encarado). Pode-se reconhecer um pelo cheiro, pois raramente se perfumam. É fácil reconhecê-los também na praia, pois machão não se bronzeia – assa.

Uma característica dele é se acompanhar de outro ou mais machões. Esse gregarismo é um resíduo das antigas caminhadas por bosques e savanas em busca da caça ou do inimigo a combater. Podem se reunir nas academias de ginástica ou em confrarias sigilosas nas quais não se permite a entrada de mulheres. Todo machão que se preza é no fundo um misógino, e quando se fala em mulher só pensa “naquilo”.

O machão não oferece a outra face, mutila o rosto de quem o agride. Não sente dor, goza o estímulo. Não discute a relação, acaba com ela – por vezes assassinando quem se mostra capaz de viver sem ele. Por tudo isso, não faltam razões para que saudemos o seu crepúsculo.

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  1. Bravo, Chico! O machão é realmente um legítimo representante da barbárie. E os machões políticos (ou os políticos machões) são os piores, pois podem causar muito mal a muitos. Não que seus eventuais opositores, por outras razões, sejam melhores. Parabéns. E que as mulheres sensatas (não as raivosas) dominem a Terra. Francisco Gil Messias.

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