"Moço, eu já cansei de lhe dizer que mais cedo ou mais tarde, isso ia acontecer. Você ainda vai bater no meu portão, a toda hora implorando o meu perdão, mas eu não posso aceitar de coração, porque mulher tem que ter opinião"
Esta estrofe é um ponto para Pombagiras cantado em terreiros de Umbanda e aqui na Paraíba em terreiros de Candomblé que iniciaram os cultos afro-brasileiros a partir da Umbanda e da Jurema Sagrada, sendo difícil as casas de Candomblé na Paraíba não possuírem suas festas para Pombagira ou não manterem a sua Jurema de chão.
Mas quem são as temidas Pombagiras para os não-adeptos, porém amadas e admiradas por umbandistas e candomblecistas? A Pombagira é um espírito de mulher, é antes de mais nada um espírito desencarnado que através de um/a médium incorpora para poder através de seus conselhos e apoio espiritual ajudar aos encarnados em diversas questões: amorosas, trabalho, saúde, etc, etc.
Com certeza, somente nos terreiros de Umbanda acharam o solo fértil para que pudessem prestar o seu serviço solidário às diversas pessoas sem os preconceitos inerentes à visão espírita kardecista. Esta sofreu a influência das religiões abrâamicas sobre a sexualidade feminina. Os adeptos da Umbanda recorrem às mulheres que em vida tiveram suas existências traçadas por um estilo de vida, em sua maioria, reprovável socialmente. Muitas foram: cortesãs, prostitutas, amantes e se retrocedermos à Grécia Antiga, foram hetairas, e em outras civilizações Prostitutas Sagradas.
Também foram queimadas pela fogueira da Santa Inquisição ou perseguidas como bruxas. A Moça mais famosa no Brasil (e países vizinhos como Argentina) e que comanda as legiões de Pombagiras no astral, é sem dúvida Dona Maria Padilha. Seu nome original é espanhol Maria De Padilla, de origem incerta, espanhola cigana quem sabe, mas que conquistou em idos do século XIV o coração de um príncipe, causando horror por sua ousadia, magias, etc. Dona Maria Padilha é citada na obra 'Carmem' de Prosper Merimée, datada do século XIX e que inspirou a ópera famosa de outro francês, George Bizet. Faz referência à célebre entidade, quando narra que a cigana Carmem orava e pedia ao espírito da então cigana de Maria del Padilha proteção e ajuda para resolução de problemas.
Trata-se da mesma entidade. Logo, tudo indica que Maria Padilha não é lenda, mas foi antes de tudo uma realidade. Na Ópera podemos ver a dedicação à figura histórica de Dona Maria Del Padilla, através da composição homônima de Gaetano Donizetti, com libreto de Gaetano Rossi, obra do século XIX. Tanto Bizet, como Merimée, assim como Donizetti e Rossi pertencem ao período do romantismo onde há a exaltação de figuras femininas do período da Baixa Idade Média.
Laroyê, Dona Maria Padilha do Cabaré!