A violência é o uso intencional da força ou de um poder contra si, outra pessoa ou um grupo/comunidade, constituindo uma ameaça de ferimento, morte, dano mental, prejuízo ao desenvolvimento humano ou privação. Certos indivíduos praticam a violência sem perceberem os prejuízos para todos. Eles agem por meio de um julgamento de que o outro é uma ameaça e deve ser eliminado. A recusa ao diálogo, a falta de respeito e a tentativa de destruir uma autoridade através da crueldade banalizam aqueles que agem pelo ímpeto destrutivo e perverso. A incapacidade cognitiva desta patologia impede o reconhecimento da necessidade de racionalidade que não pode ser ignorada. Essa brutalidade irracional configura um problema estrutural que tem agravado as disparidades socioeconômicas, a marginalização social e a negligência das ações governamentais.
A tipologia empregada nos estudos sobre violência é descrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que a diferencia com base em sua estrutura e na análise da relação entre autor e vítima. Assim, a OMS a classifica em:
▪️ Violência autoinfligida ocorre quando um indivíduo pratica o ato contra si, sem envolvimento de terceiros. Nesta categoria estão incluídas a automutilação e o suicídio;
▪️ Violência interpessoal ocorre quando os atos são cometidos entre indivíduos, ou seja, há um (ou mais) agressor e um (ou mais) vítima. Ela é subdividida em duas categorias: familiar e conjugal, ou seja, violência doméstica, que ocorre dentro do mesmo círculo familiar e envolve parentes, cônjuges e/ou parceiros íntimos. Por exemplo: violência contra mulheres, que também é entendida no contexto de gênero; violência contra idosos e crianças.
▪️ Violência comunitária ocorre entre indivíduos que não são da mesma família ou não têm um relacionamento próximo. A Organização Mundial da Saúde classifica como exemplos os crimes contra a propriedade, abusos contra estrangeiros e hostilidades no ambiente de trabalho;
▪️ Violência coletiva é realizada por grupos de pessoas que têm como alvo cidadãos ou comunidades, com uma causa específica determinada. Essa categoria pode ser subdividida em violência política e social.
O Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), traz informações e características da violência no Brasil. A edição mais recente expõe que os jovens e negros são as principais vítimas de homicídio no país. Além disso, a violência contra mulheres e a população indígena vem aumentando. Para além das questões estruturais que auxiliam os pesquisadores a compreender a violência, é importante destacar a falta de garantia dos direitos fundamentais da população decorrente da negligência de alguns líderes políticos.
Mapas da violência
Titus Maccius Plautus (230 a.C. – 180 a.C.) foi um dramaturgo romano. Ele afirmou: “Homo homini lupus” (O homem é o lobo do homem). Diante disso, a imutabilidade da violência, com a sua invisibilidade enraizada no aumento das injustiças sociais, é um desafio complexo e de origem variada. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem como prioridade combater a violência em suas diversas formas e a redução
da taxa de mortalidade, a fim de promover o desenvolvimento sustentável, o bem-estar social e a paz entre os países. Nesse sentido, medidas de prevenção incluem a redistribuição equitativa de renda do país entre todos, o estímulo à participação cidadã na segurança local e a garantia de acesso digno à saúde. Além disso, é fundamental que o Governo e os estados implementem políticas públicas voltadas para a diminuição das disparidades socioeconômicas, a inclusão social de crianças, jovens e idosos ao lazer, o acesso a uma educação crítica e transformadora, a oferta de formação profissional e oportunidades de emprego, a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos em cidades inteligentes, uma vez que esses direitos são assegurados pela Constituição Federal de 1988.
Encerro com o poema Sangrando, escrito em 1987 pelo poeta, cantor e compositor carioca Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (1945 – 1991), mais conhecido como Gonzaguinha. O poema versa a intensidade emocional e a fragilidade inerente à natureza humana.
“Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca
Peito aberto
Vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida
Que eu estou cantando
Quando eu abrir minha garganta
Essa força tanta
Tudo aquilo que você ouvir
Esteja certa
Que estarei vivendo
Veja o brilho dos meus olhos
E o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado
Transbordando toda a raça e emoção
E se eu chorar
E o Sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é minha força
Pra cantar
Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar”.