INTRODUÇÃO: A escolha desse tema foi proposital, face às elevadas estatísticas de estresse e depressão, que vêm se constituindo um fator causal de grande número de mortes por doenças cardiovasculares. Importante salientar que esta situação clínica eleva a pressão arterial, fazendo eclodir AVC e ainda, desencadeia infarto agudo do miocárdio por espasmos (estreitamentos) de uma ou mais artérias,da árvore coronária.
Considerado o “mal” desde o século passado, esse tormento, terrível e imprevisível acometimento patológico, nos parece, continuar aterrorizando suas vítimas e desafiar aos médicos neste novo século que avança, com envolvimento maior dos cardiologistas e psiquiatras. O termo estresse, foi e continua sendo definido, como sinônimo de atribulação, nervosismo e ansiedade, resultado do excesso de trabalho, remuneração insuficiente, descanso ineficaz, pressão e tormento ao cumprimento de prazos a cumprir, autocobranças por avaliação de performance.
Na verdade, estresse é um acontecimento de qualquer natureza, bom ou mau, que desencadeia alterações no organismo, na tentativa de adaptá-lo à nova condição.
Uma grande tensão e uma grande alegria, dessa forma, se equivalem. Ambas podem desencadear, entre outros sintomas: elevação da frequência cardíaca, aumento dos movimentos respiratórios, boca seca, mãos úmidas, sudorese fria, pupilas dilatadas, cefaleia, palpitações no coração, diarreia ou prisão de ventre e ainda liberação de hormônios no sangue.
A reação aguda ao estresse, paradoxalmente, pode ser muito benéfica. É em consequência dessas mudanças orgânicas que as pessoas se sentem motivadas a superar os desafios. São transformações fisiológicas decorrentes dessa reação que permitem a sensação de entusiasmo e excitação no trabalho, no aprendizado e até no lazer.
Os problemas começam quando a resposta do organismo ao estresse é inadequada, desproporcional ao estímulo que desencadeou, ou ainda, quando o acometimento que deflagra as mudanças se prolongam, levando o indivíduo a vivenciar o estresse crônico, podendo ultrapassar as barreiras da depressão e iminente deflagração da síndrome do pânico, sem falar, em outras situações clínicas que passamos a descrevê-las.
Nesses casos, o corpo passa a trabalhar acima de suas capacidades, deixando de suprir várias de suas necessidades. Os sistemas responsáveis pela boa regulação das funções e pela manutenção do equilíbrio do organismo, como o imunológico, o endócrino e o neural, perdem naturalmente, a eficácia, podendo até desenvolver enfermidades graves de curso clínico imprevisível como: processos alérgicos, espasmos coronarianos e infarto agudo do miocárdio, doenças reumáticas, infecciosas, úlcera gástrica e duodenal e até tumores.
A questão não é se livrar ou se curar do estresse. Muitas vezes não é possível afastar-se de todos os estímulos que fazem a pessoa sofrer, mas é sempre possível reeducá-la de forma a evitar o sofrimento adequado a resposta ao estresse. Há variadas técnicas que, isoladamente ou em conjunto, são capazes de diminuir as consequências negativas do estresse: envolvimento com hobby de sua preferência; prática de trabalhos e/ou ocupações que lhes façam bem, levando a descontração; prática de exercícios físicos (esportes e similares), como por exemplo, caminhada, hidroginástica, técnicas de relaxamento, yoga, técnicas especiais de respiração, auto-massagens etc.; sem falar na terapêutica medicamentosa que são as mais variadas, dependendo do caso e de uma oportuna introdução pelo seu cardiologista.
O descaso e a demora no tratamento dessa enfermidade, constitui em comportamento negligente por parte do profissional, prolongando desnecessariamente o sofrimento do paciente. Também o diagnóstico superficial é igualmente perigoso, pelo fato de cada sintoma poder estar ligado ao estresse, mas também ser motivado por outra patologia, o que não é difícil de ocorrer. Assim, a demora no diagnóstico correto pode acarretar graves consequências pelo retardo do tratamento adequado e eficiente.
É importante que se busque a ajuda oportuna do cardiologista que além de sua formação especializada, tenha boa formação em medicina interna, e com as aptidões e argúcia clínica em medicina psicossomática, para considerar e discernir o estresse como fator importante na gênese e/ou manutenção de seus sintomas, consequentemente com a sabedoria, tranquilidade e discernimento para formulação do diagnóstico correto, preciso e seguro.