O filho de Yi Jiefang era um estudante chinês de botânica que pretendia recuperar desertos, mas, infelizmente, no ano 2000, morreu num acidente ocorrido no Japão. Aos sessenta anos, Yi Jiefang decidiu que iria realizar o sonho do filho, usando o valor que recebeu do seguro de vida, e mais o dinheiro que obteve com a venda de sua própria casa. Usou o valor para comprar mudas e insumos e se dedicar, durante mais de vinte anos, a plantar milhões de árvores no noroeste da China. Insistiu com sua tarefa por vinte anos, até que o deserto virasse uma floresta. Sua empreitada solitária virou um projeto que depois recebeu doações e a colaboração de voluntários.
Recuperado, o deserto da Mongólia Interior assistiu a volta da fauna, restituída junto com a vegetação. Esquilos e falcões voltaram a habitar a nova paisagem de florestas coníferas, formada por herbáceas e estepes. Com mais de oitenta anos, vendo o resultado do seu empenho, Yi Jiefang declarou: “os homens não podem levar dinheiro com eles depois que morrem. Transformei meu dinheiro em terras verdes”.
No Brasil, o famoso fotógrafo Sebastião Salgado e sua esposa Lélia também resolveram reflorestar uma área devastada de mais de seiscentos hectares, adquirindo a fazenda Bulcão, situada no município de Aimorés, em Minas Gerais e plantando dois milhões de árvores no curso de décadas.
Os gestos de amor de Yi Jiefang e do casal Salgado, contribuíram para que gerações atuais e futuras vivam num ambiente melhor, apesar de saberem que, sem a humanidade, o próprio planeta se reflorestaria sozinho. Apesar de suas ações extraordinárias, o seu exemplo e atitude, são ainda mais importantes, pois ensinam a existir sem destruir.
Contudo, restituir ao mundo paisagens ecológicas não é o único modo de mudá-lo. Rosa Parks se dispôs a ser presa para ajudar a sociedade a se libertar do racismo. Malala Yousafzai quase virou mártir, ao enfrentar o obscurantismo e a violência na tentativa de levar educação a outras meninas e jovens. Quando se expuseram ao risco, ambas eram pessoas anônimas e sem recursos financeiros que nunca pensaram em se tornar ícones. Apenas se dispuseram a fazer o que julgavam necessário para que todos pudessem viver numa realidade melhor.
Admirar valores é bem diferente de se comprometer com eles. Agir de modo congruente com a mudança que se deseja é uma tarefa desafiadora que significa abrir mão de conforto e se dispor a sacrifícios.
O ator chinês de filme de ação, Chow Yun Fat recebeu mais de 714 milhões de dólares ao longo de sua bem sucedida carreira. Sem censurar ninguém, sem se promover e apenas seguindo as próprias crenças, Chow Yun Fat vive em Hong Kong utilizando transporte públicos, comendo em restaurantes populares, vestindo roupas simples e gastando somente cem dólares por mês consigo mesmo. Chow Yun simplesmente decidiu que não era dono do seu dinheiro e doou tudo para instituições beneficentes, crendo que isso era o certo a ser feito. Alguns até se ofendem com o comportamento do ator e o criticam, o que se constitui em outro preço que Chow Yun Fat tem de pagar pela coerência com suas ideias.
É possível fazer a diferença, mas é preciso agir. O escritor Paulo Coelho disse que o mundo muda com o nosso exemplo e não com nossa opinião. Cada um sabe o quanto está disposto a ajudar. De Francisco de Assis ao homem que acaba de descobrir que seu umbigo não é o ponto em torno do qual o universo gravita, cada um pode contribuir com seu quinhão para que a vida seja melhor. O autor italiano Pietro Ubaldi disse que devemos experimentar em nós mesmos o máximo de transformação suportável. Transformando-nos, transformaremos o mundo.
Eu perguntei a Bernardo, o meu filho de oito anos: “você acha que é possível mudar o mundo?” Ele respondeu: “Sim. Se as pessoas colaborarem”. Bernardo sabe das coisas.