A família Santos Leal teve importância determinante no desenvolvimento da Paraíba. Sua influência permaneceu por mais de um século...

Curta história do Dr. Antônio Simeão dos Santos Leal, homem destemido e de muitas lutas

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A família Santos Leal teve importância determinante no desenvolvimento da Paraíba. Sua influência permaneceu por mais de um século, envolvendo a política, a literatura, as artes e a religião.

O início desta saga se deu com os ideais nacionalistas e de liberdade que se difundiram na província de Pernambuco, desde a Guerra dos Mascates, da Confederação do Equador até a Revolução Praieira, quando os Santos Leal tiveram participação efetiva. Mesmo depois de radicados na Parahyba, estiveram sempre envolvidos com movimentos revolucionários de outras áreas do Nordeste.

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Recife (PE) @recife.pe.gov.br

QUEM FOI O PRECURSOR

O precursor da família Santos Leal em nosso Estado, em meados do século XIX, foi o coronel Joaquim José dos Santos Leal, mais conhecido em Areia como
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Jayme Augusto de Almeida
Acervo do autor
"Coronel Quinca", um dos comandantes da Guarda Imperial durante a Revolução Praieira e depois deputado provincial.

Logo em seguida aparece um sobrinho dele, filho de sua irmã Maria Emília dos Santos Leal, chamado Walfredo Soares dos Santos Leal (mais conhecido como monsenhor Walfredo Leal) e que — apesar de haver sido encaminhado para a vida religiosa, inclusive estudando na Europa — galgou todos os cargos políticos no Estado, tendo sido deputado estadual, deputado federal, senador e presidente da unidade federativa parahybana.

UMA PROLE DE 10 FILHOS

Não muito tempo depois surge outro sobrinho do Coronel Quinca, chamado Antônio Simeão dos Santos Leal, neto de sua irmã, Justina Umbelina dos Santos Leal.

Antônio Simeão dos Santos Leal era filho de Maria Laurinda da Motta Leal (1857-1927), mais conhecida como “Mãe Sinhá”, e de Francisco Simeão Soares da Costa (1840-1904). O casal deu origem a uma prole de 10 filhos. O primogênito, Antônio Simeão, nasceu na cidade de Areia em 11 de maio de 1873 e faleceu prematuramente, a 13 de novembro de 1921. Eram seus irmãos:

* Alfredo Simeão dos Santos Leal, prefeito de Areia entre 1912 e 1915); * Amélia Laurinda da Motta Leal; * Pedro Simeão dos Santos Leal; * Maria da Motta Leal; * Alice da Motta Leal; * Belarmina da Motta Leal; * Júlia da Motta Leal, casada com Jayme Augusto de Almeida, prefeito de Areia de 1929 a 1935); * Érgida da Motta Leal e * Severina Dalva da Motta Leal.

BACHARELANDO-SE EM DIREITO

Desde muito jovem, Antônio Simeão dos Santos Leal passa a ajudar o pai na lida diária, em seu estabelecimento comercial. Mas, com o decorrer dos anos, resolve se dedicar aos estudos,
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A. Simeão Santos Leal>
Acervo do autor
formando-se pela Faculdade de Direito do Recife, em 1896.

Ao retornar a Areia, é nomeado promotor público da cidade. Permanece nessa função até inícios de 1900. Ainda como promotor, envolveu-se com a política de Areia, logo fazendo oposição à política comandada pelo coronel Cunha Lima, que havia muito tempo literalmente reinava na cidade.

NO COMANDO POLÍTICO

Em 1898, Antônio Simeão assume a chefia política de Areia, indicado pelo Presidente Antônio Alfredo da Gama e Mello ("gubernavit" 1896-1900), tornando-se o
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Cel Cunha Lima Acervo do autor
grande adversário político e pessoal do já referido coronel Cunha Lima, que, em termos de Política, achava-se no ostracismo, desde que rompera com seu conterrâneo, o Presidente estadual Álvaro Machado.

No início de 1900, Simeão é nomeado juiz de Direito da comarca de Borborema. No entanto, ainda nesse mesmo ano. vê-se indicado Chefe de Polícia da Parahyba (cargo hoje equivalente ao de Secretário da Segurança e Defesa Pública), para servir ao Governo de José Peregrino de Araújo ("gubernavit" 1900-1904).

UM JORNAL EMPASTELADO

Durante seu governo, o Presidente Peregrino de Araújo persegue duramente seus inimigos políticos, apoiado pelo Chefe de Polícia, inclusive acusado de haver empastelado e fechado “O Comércio”, jornal de propriedade do importante jornalista paraibano Artur Aquiles que fazia forte oposição ao Presidente estadual.

Em fins de 1900, em termos de política administrativa, havia os os Conselhos Municipais que administravam as cidades, mas que foram dissolvidos por determinação do Presidente Peregrino de Araújo.

UM NOVO CONSELHO

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Peregrino de Araújo Acervo do autor
Então, em termos da municipalidade areiense, o Presidente estadual decide nomear, em lugar do antigo Conselho, uma novel Comissão composta por Glicério Cavalcante de Albuquerque, Alfredo Simeão dos Santos Leal e Lourenço Justiniano Bezerra, que permanecem à frente dos destinos da urbe até o final de 1901.

Nova Comissão é eleita, em seguida, atuando até o ano de 1904, quando o novo Presidente eleito, Álvaro Machado, entrega a chefia política da cidade ao Dr. Otacílio de Albuquerque, outro adversário político do Coronel Cunha Lima, mas também inimigo pessoal do Dr. Antônio Simeão, embora aliado de outra liderança, Remígio Veríssimo d’Ávila Lins, que em 1908 seria seu sucessor na mesma Prefeitura de Areia.

TRIUNVIRATO APÓS TRIUNVIRATO

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Otacílio de Albuquerque
Acervo do autor
No final de 1904, conforme marchavam as circunstâncias político-partidárias, o Conselho Municipal é novamente destituído, nomeando-se outra Comissão, desta feita composta por Rufino Augusto de Almeida, novamente Alfredo Simeão dos Santos Leal e Eustáquio Carneiro de Mesquita, que ficaria administrando a cidade até a nomeação do novo prefeito.

E o nomeado, a 27 de dezembro de 1904, foi o Dr. Otacílio de Albuquerque.

PRIMEIRO VICE-PRESIDENTE ESTADUAL

Nas eleições estaduais de 1904, o Presidente Peregrino de Araújo lança o Dr. Antônio Simeão como seu candidato ao Governo da Parahyba. Entretanto, uma forte oposição comandada pela juventude estudantil, professores e jornalistas, impede a consecução de seu desejo de se tornar Presidente do Estado.

Simeão tinha o dom da palavra, sendo excepcional orador, bastando para tanto lembrar as discussões que manteve com o jovem homem de Imprensa Arthur Aquiles. Suas qualidades de orador ajudaram para que fosse eleito primeiro vice-presidente do Estado, na chapa liderada por seu conterrâneo Álvaro Lopes Machado.

APOIO DO PRIMO MONSENHOR

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Álvaro Machado
Acervo do autor
Nova troca na chefia política de Areia provoca o rompimento do Dr. Antônio Simeão com o Presidente estadual Álvaro Machado.

A partir daí, Álvaro — que nunca se dera bem com Simeão, passa a persegui-lo de tal forma que esse só consegue resolver suas pendências políticas por intermédio do seu primo, o monsenhor Walfredo Leal, que o protegia politicamente, em virtude da amizade fraternal que, por seu turno, nutria por Álvaro Machado.

O CORONEL NA PREFEITURA

Nas eleições municipais de 1912, para o Conselho Municipal, o coronel Cunha Lima apoia uma chapa de oposição, obrigando o Dr. Otacílio de Albuquerque a fazer um acordo com o Dr. Antônio Simeão para lançarem uma chapa única. No entanto, contrariando todas as expectativas, o coronel Cunha Lima vence por pequena margem de votos.

Isso faz com que o prefeito Remígio d’Ávila Lins tome a decisão de renunciar ao cargo. Assim é que o Dr. Otacílio, como chefe político da cidade, entrega a escolha do novo prefeito ao deputado Antônio Simeão, que indica seu irmão Alfredo Simeão dos Santos Leal para assumir o cargo de mandatário-mor da mui bucólica urbe.

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Areia (PB) P.M.A.
DE LEGENDÁRIA CORAGEM

O Dr. Antônio Simeão era homem de rara inteligência e de coragem exacerbada. Tanto é que, em 1901, ainda como Chefe de Polícia, mandou cercar o engenho “Mundo Novo”, de propriedade do coronel Cunha Lima, com a finalidade de encerrar de vez com os desmandos provocados naquela área, que servia até de coito para afamados cangaceiros.

Vê-se, portanto, que o Dr. Simeão tinha a necessária disposição para enfrentar qualquer problema advindo da Política e da ação de seus adversários.

NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

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Mons. Walfredo Leal
Acervo do autor
Em 1905, já como primeiro vice-presidente e rompido com o Presidente Álvaro Machado, verifica-se uma reconfiguração na política paraibana. É quando decide concorrer à Câmara dos Deputados, na vaga aberta pela renúncia do seu primo, o monsenhor Walfredo Soares dos Santos Leal, que iria assumir a Presidência do Estado em 28 de outubro de 1905.

Antônio Simeão então é eleito deputado federal em julho de 1905, sendo sucessivamente reeleito até sua morte. Durante este período foi escolhido primeiro-secretário da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, de 1905 a 1914.

PASSANDO-SE À OPOSIÇÃO

A partir de 1915, após Epitácio Pessoa ser escolhido chefe político do Estado, pelo Presidente Venceslau Brás, passa-se com armas e coragem para a Oposição.

Nesse período ainda viu seus inimigos políticos, o coronel Cunha Lima e o Dr. Otacílio de Albuquerque, também se elegerem para a Câmara Baixa.

REPRESENTANTE DA OPOSIÇÃO

A partir de 1915, passa a ser reeleito para várias Legislaturas seguidas, como único representante da Oposição no Estado.

Igualmente se destacou como provedor da Santa Casa de Misericórdia da Parahyba e sócio do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano), a mais antiga entidade cultural em ininterrupta atividade no Estado.

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AAP
PREVIU O ASCENSO DE JAYME


Era um parlamentar mui atuante e querido pela classe trabalhadora, a quem por igual se devotava.

Tinha muito apreço pela família, sempre visitando a irmã Júlia, minha bisavó, porque achava que seu marido, o coronel Jayme de Almeida, poderia substituí-lo na chefia política de Areia — o que de fato aconteceu, embora não tenha tido a oportunidade de ver cumprida sua premonição.

SAUDADO POR UM ADVERSÁRIO

Casara-se em 1901 com Amélia Rego, sem ter filhos. Em seu velório, ocorrido na Câmara dos Deputados, foi saudado de forma magnífica por seu conterrâneo e adversário político, o Dr. Otacílio de Albuquerque.

Como se vê, era reverenciado, em virtude de uma reta atuação de administrador de visão, até mesmo pelos contrários na Política.

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  1. Bela aula de História política da Paraíba!

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  2. O presidente Peregrino conseguiu alterar a Constituição Estadual para Semeao Leal poder disputar o governo do estado com a idade que tinha o que não atendia a norma maior. Todavia conseguiu apenas ser vuce presidente.

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  3. Bom levantamento sobre nossa família do lado da avó Júlia. Assim encontramos as vertentes da família e suas respectivas histórias de vida. Forte abraço! Regina F. Almeida Lyra Toscano

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  4. Importante demais essas informações históricas, que alegra a nossa vida e faz conhecer melhor Areia e a Paraíba. Quantos nomes que hoje se encontram apenas como nome Rua, todavia fazem da nossa história. Obrigado.

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    1. O comentário assina foi feito por filho de Areia, Procurador de Justiça do Estado da Paraíba, José Raimundo de Lima.

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