O arquiteto Clodoaldo Gouveia, capixaba de Vitória, nosso avô materno, pontuou grandiosamente a paisagem urbana da Paraíba com talento, ousadia e arquitetura moderna, nacionalmente aplaudida até os dias de hoje.
O então governador Presidente João Pessoa, grande empreendedor, precisava de diferencados projetos e ouviu falar da nova geração de arquitetos que estavam sendo graduados na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro (atual Escola de Belas Artes da UFRJ). Esta leva de talentosos profissionais tinha grande influência da Arquitetura Moderna, ora despontando com forte eloquência na Europa e resto do mundo, a exemplo da Escolas Bauhaus e de Le Corbusier. Mas foi no governo de Argemiro de Figueiredo (1935-1940) que Clodoaldo houve-se mais provocado a mostrar o seu talento, do qual nasceram célebres obras que imortalizaram a marca do modernismo arquitetônico na Paraíba.
Não se tem exata noção nem registros de todos os seus projetos no estado, pois além das grandes obras institucionais, Clodoaldo projetou muitas residências unifamiliares, algumas demolidas, outras dando os últimos suspiros pelas ruas Almirante Barroso, D. Pedro I; igualmenete em Campina Grande e várias cidades do interior. Exemplo que emergiram da cena urbana com a leve surpresa dos traços art-déco.
Como também era engenheiro, pois à época em que se diplomou a arquitetura ainda não se dissociara da engenharia civil, acompanhava cotidianamente o colega engenheiro Ítalo Joffily, idem cooptado por Argemiro de Figueiredo, que executou suas obras, além de muitas pontes e estradas pelo interior, possibilitando que Clodoaldo distribuísse sua arte por toda a Paraíba.
Poderíamos enumerar alguns projetos, a exemplo do Instituto de Educação (Lyceu Paraibano), com seus belos vitrais, as duas estações da Rádio Tabajara, Secretaria das Finanças da Prefeitura (aquele que se passou a ser conhecido como “ferro de engomar”), Palácio da Viação (Antiga Central de Polícia e hoje Escola Técnica Estadual de Arte, Tecnologia e Economia Criativa Poeta Juca Pontes), Estúdio e Estação Transmissora da Rádio Tabajara, Quartel do 1º Batalhão da Polícia Militar (Praça Pedro Américo), 15º Regimento de Infantaria Vidal de Negreiros, Parahyba Palace Hotel, Mercado Central, Cassino da Lagoa, Manicômio Judiciário, e as últimos grandes projetos de reforma do edifício dos Correios e Telégrafos (hoje Paço Municipal), e do Palácio da Redenção (governo estadual).
Edifício da Secretaria das Finanças ▪ Imagens: IBGE + Alphabet
Admirador inconteste das artes plásticas, quando possível Clodoaldo procurava inserir em seus projetos obras de arte, como fez no Lyceu Paraibano, em cuja fachada ainda reluz os belos vitrais que a seu pedido foram importados da Europa, sem registros precisos de autoria.Para seu projeto do monumento ao presidente João Pessoa, coração da praça homônima em frente ao Palácio do Governo, convidou o artista paulistano, descendente de italiano, Humberto Cozzo, a participar com as imponentes esculturas sobre os pedestais cubistas. Tal como fez para a concepção do projeto do túmulo de Anthenor Navarro, no cemitério da Boa Sentença, onde se vê sobre bases escalonadas nascer um obelisco com a imagem de “um anjo derramando lágrimas pela morte do estadista” (descrição dele), grande amigo das artes, principalmente a música.
A chegada de suas obras com flagrante intervenção no cenário urbano pessoense foi única e profundamente marcante. Uma vez que a Arquitetura de destaque, à época, era produzida pelo arquiteto Hermenegildo Di Láscio - pai do também arquiteto paraibano Mário Di Láscio – em estilo com predominância da influência neoclássica europeia. Como pode-se constatar em seus belos projetos das duas lojas maçônicas e do prédio da Associação Comercial, no final da Rua Maciel Pinheiro, ao lado da Praça Anthenor Navarro.
Até hoje, as obras de Clodoaldo continuam despontando como eminente representação da boa arquitetura nacional, sendo permanente objeto de estudos e pesquisas nos meios acadêmicos.
Os dois prédios tombados, a sede da Rádio Tabajara, na Rua Rodrigues de Aquino e o Estúdio na Av. Dom Pedro II (em frente à entrada do Jardim Botânico), foram tristemente demolidos, da mesma forma com que os paraibanos vêm testemunhando, alguns indiferentes, outros sem ânimo e esperança, e poucos revoltados, a deterioração de um conjunto arquitetônico e histórico tão raro, um dos mais bonitos do país.
Estúdio e Estação Transmissora da Rádio Tabajara ▪ Imagens: IPHAEP
Clodoaldo Gouveia foi homenageado com um nome de rua no centro de João Pessoa. Mas a Paraíba deve-lhe muito mais pelo que ele fez, sobretudo na capital. A audaciosa renovação de nossa paisagem arquitetônica foi, em grande parte, fruto da criatividade deste capixaba extremamente talentoso.As obras de Clodoaldo são inspirações imorredouras, o que reforça a Arquitetura como um trabalho de especial relevância, na medida em que intervém de maneira decisiva e obrigatória na visão e no contexto da vida urbana. Se fosse construída hoje, sua obra ainda estaria extremamente atual, tão presente estão nelas os traços da essência contemporânea e da concepção moderna que adveio da escola cubista.
A boa Arquitetura não morre, não passa, é eterna, seja onde ainda de pé estiver.