Retorno a um texto de 1981 sobre meu relacionamento com o conterrâneo Nathanael Alves, interrompido inesperadamente, em abril daquele ano após sua partida definitiva, porque sempre tivemos admiração de filho para com o pai. Em nosso caso, pai, porque colocou livros em minhas mãos, estimulou leituras e a refletir sobre a importância da função da arte no conjunto de nossa vida.
O texto tinha sido escrito após sua morte, e mostrava a camaradagem como nos tratávamos.
Trazíamos as marcas da vida em Serraria e Arara, de onde viemos, cada um com suas mãos calejadas e aspirações nem sempre realizáveis.
Serraria (PB) @abrindofronteiras2234
Muitos se sentaram nas cadeiras brancas do seu terraço, não só para escutar lições sobre jornalismo, literatura ou problemas políticos, mas para conversar. Uma palestra amena. Ou para escutar ele falar sobre a condição humana, seu tema predileto, seja de quem residia em Arara, no Deserto do Saara ou em Nova Iorque. Aos problemas que afligiam, ele trazia vida e forma.
Arara (PB) @abrindofronteiras2234
Para ele, o estilo é tudo para o escritor. Igualmente, revelava que no espírito do poeta, a poesia penetra sem esforço. Defendia que somente deveríamos escrever se tivéssemos realmente algo novo para dizer. O simples jogo de palavras pode dar a sensação de beleza, mas é como a flor de papel crepom, que tem a sensação efêmera, é falsa e desbota.
Das lições que me deu, jamais esqueci daquela quando disse que é necessário se fazer alguma coisa para salvar o mundo. A salvação possível através da palavra, da Arte, dos gestos como os de São Francisco de Assis.
Nathanael Alves A União
Outra lição: escreva com simplicidade, de modo como você conversa, depois corte os excessos. E acrescentava:
"Veja Graciliano Ramos e Flaubert. Estes escritores escreveram com simplicidade. Usavam as palavras como um pedreiro que levanta uma parede"
Sempre esperei chegar à forma ideal na construção da frase. Personagens que, como nós dois, perambulavam pelas capoeiras do sítio Tapuio, do sítio Areial, tomaram banhos nas águas do Rio Araçagi-Mirim ou escutavam o som da viola desafinada de Libânio Mendes ou Josué da Cruz, nas noites enluaradas de Arara e Serraria.