Amores aéreos
Quando eu era missivista, eu me via assim com a alma presa na caneta Bic, (ou na ponta fina do lápis Crayon), esculpindo, cuidadosamente, um pouco das paixões que me escorriam pelo peito. Viajava a bordo de beijos e longuidão. De repente, a cibernética embargou minhas cartas, expulsou-me do papel, rasgou risos e desviou rios de devaneios. As cartas seladas com a cola grudenta dos Correios, foram ressecando as minhas juras. O meu amor grudado, que só cheirava a cola de Correio, hoje, fugaz, gruda na memória, uma saudade tenaz. No saguão do aeroporto, onde envelopes levantavam voos, ficaram aéreos os meus desejos siderais. Os Carteiros agora mudos, aturdidos, rosto vazio e deserto, encartam a solidão das ruas. Farto de exílio, não sei mais como viver num mundo de tantas exiguidades. Lembrar de novo dos "destinatários", "remetentes", mãos livres, renitentes... - Onde poderei escrever o teu nome, se a ponta ausente e sôfrega do "crayon" está repleta dos dias descartados? Nas missivas, vetadas pelo vilão do tempo, ficaram internalizados os meus cativos todos ainda envelopados, desiguais. Guardo apenas "teu nome por todo". Ah! Ah! o teu nome por todo (!!!) Aquele que durante tanto tempo, te mandei nos reembolsos. E as confissões aéreas, avoantes encartadas sem arremesso e remetente? Eu só as conheço agora pela palavra: AUSENTE.