Na calçadinha da praia do Cabo Branco, numa dessas tardes mornas de começo de semana, encontro uma velha amiga da nossa família. Conversa vai, conversa vem, ela me fez uma pergunta que me surpreendeu em todos os sentidos:
"Petrônio, sei que você já passou dos 70 anos e mora sozinho há algum tempo. Quais são seus planos para o futuro, meu filho? E completou: “Estou perguntando porque sei que seus pais estariam fazendo a mesma pergunta”.
Agradecendo a preocupação com o garoto de outrora, não demorei muito na resposta:
“Todo mundo pensa em encontrar uma companhia para viver com dignidade a etapa final da vida. De repente, o companheirismo pode ser tão forte que venha a estimular o sexo, sem a ajuda da chamada química externa.” E arrematei: “Lembre-se de que muita gente vive só, mas tendo os seus afetos...”.
A senhora riu muito e achou que seria um projeto quase impossível de ser realizado, sobretudo nos dias de hoje, quando, segundo ela, poucas mulheres estariam pensando da mesma forma. Bom, ao contrário do que supõe minha velha amiga, acho que há mulheres pensando da mesma forma, sim.
Atualmente, muitos acreditam que o companheirismo é o que conta verdadeiramente em um relacionamento na terceira idade. O sexo já não tem o mesmo peso ou nenhum peso na relação. De repente, quando o companheirismo é muito forte, surge, como que por gravidade, o sexo ocasional, aquele que realmente dá prazer.
É tolice apelar para a chamada química externa, meios artificiais, Viagra, etc. Isso não faz o menor sentido, corrompe a relação, apenas agride a natureza. Os valores vão mudando com o tempo, assim como as prioridades. É a idade da razão.
Mas, não me iludo. Essas coisas não podem ser planejadas, forçadas, virar obsessão, ideia fixa. Tudo vai para o rol do acaso. Já ensinava Simone de Beauvoir, figura que dominava bem o assunto: “O acaso tem sempre a última palavra.”