1994. Lembro-me bem. Inflação nas alturas, dissolvendo os salários e o dinheirinho daqueles que não podiam ou não sabiam aplicar no “...

30 anos do Plano Real: uma conquista do Brasil

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1994. Lembro-me bem. Inflação nas alturas, dissolvendo os salários e o dinheirinho daqueles que não podiam ou não sabiam aplicar no “overnight”. A população refém da insegurança e da angústia decorrentes da incerteza sobre o dia seguinte. Medo de consumir, medo de poupar, medo de investir. Ainda na mente – e nos corações – das pessoas o aloprado confisco de Fernando Collor. Dias sombrios. Futuro nebuloso. Lembro-me bem. E quantos mais ainda o fazem?

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Itamar Franco à frente de um governo supostamente fraco, dadas as circunstâncias em que chegou ao poder. Mas havia um sincero desejo de conter e se possível extinguir a desenfreada inflação. Uma meta acima dos partidos e das ideologias. E dos interesses eleitorais do curto prazo. Meta digna de estadistas, aqueles poucos capazes de pensar o bem do país e do povo para além das conveniências pessoais. Foi o caso.

Itamar Franco ▪ 1929—2011
Após a frustrada passagem de alguns ilustres à frente do Ministério da Fazenda, o presidente teve a feliz inspiração de convidar seu então ministro das Relações Exteriores para assumir o temido cargo – e seus riscos. Mais um insucesso e iria ao chão qualquer pretensão política do responsável, sem falar no evidente prejuízo biográfico. Uma cartada perigosa e ao mesmo tempo um desafio para o convidado. Felizmente venceu o destemor e foram imediatamente postas mãos à obra.

Uma equipe de ouro foi formada por economistas de escol. Um plano foi aos poucos criado, com uma audácia e uma inventividade talvez nunca vistas em nossa história republicana. O presidente, que não era das ciências econômicas mas da realista e prudente política mineira, comprou as ideias que lhe apresentaram, confiou nos auxiliares e mandou ir em frente. A sensibilidade do juiz-forano falou mais alto, para o bem do país. O político provinciano até então subestimado foi se transformando em verdadeiro homem de Estado, com visão de longo alcance típica dos grandes líderes. As Minas Gerais que já tinham dado Juscelino e que dariam Tancredo, oferecia ao Brasil naquele instante de mar revolto a mão firme – e visionária - de que se precisava.


No Congresso Nacional, uma vez apresentado o Plano, uma minoria antirrepublicana, oportunista e gastadeira colocou, como sempre, seus mesquinhos interesses de curto prazo acima do bem coletivo. Os nomes desses tais estão registrados pela história – e não há quem os apague. Os diversos livros e depoimentos sobre estes trinta anos comemorativos estão aí à disposição dos mais jovens e dos que têm memória curta. A mentalidade dessa minoria era ser do contra apenas para ser do contra. E por aí se vê o nenhum compromisso para com os mais altos interesses do país.

O Plano entrou em vigor, o povo maciçamente aderiu e o resto é história. A economia brasileira se estabilizou, a moeda adquiriu valor, a população se tranquilizou, o país se fez respeitar perante o mundo,
Fernando H. Cardoso, em 1994
dando aos outros povos uma lição de competência ainda hoje citada e estudada, para orgulho da raça tupininquim.

Deve-se lembrar que a muitos o Brasil deve o sucesso do Plano Real. Primeiro, ao ex-presidente Itamar Franco, nome pouco lembrado – ou não suficientemente lembrado, a despeito de ter sido a base de tudo, sem a qual nada teria acontecido; segundo, a Fernando Henrique Cardoso, goste-se dele ou não, pois foi quem arregimentou a equipe de ouro criadora do Plano e lhe apoiou em todos os momentos; terceiro, ao seleto grupo de economistas que elaborou o Plano e o implementou, ajustando-o gradativamente às necessidades conjunturais, de modo a viabilizá-lo; quarto, ao ex-ministro Rubens Ricupero, que, assumindo o ministério da Fazenda no momento crucial do lançamento do Plano, deu-lhe sustentação e continuidade, garantindo seu êxito; e quinto, ao povo brasileiro em sua totalidade, que, absorvendo surpreendentemente a aparente complexidade do Plano, conferiu-lhe efetividade e, mais que isso, legitimidade, tornando-o irreversível, como o são as genuínas conquistas nacionais.

Que não prosperem, pois, os que insistem em defender a esdrúxula ideia de que “um pouco de inflação faz bem”, apenas para justificar o desequilíbrio fiscal decorrente da irresponsabilidade de se gastar mais do que se arrecada. As heroicas donas de casa que vão à feira semanalmente sabem que não é bem assim. Nenhuma inflação faz bem, principalmente aos mais pobres.

Que se comemorem efusivamente estes 30 anos de estabilidade econômica, acima dos homens, dos partidos e das ideologias. Nossos sofredores irmãos argentinos estão aí ao lado para nos lembrar os nefastos efeitos da hiperinflação e da demagogia eleitoreira.

Com o Plano Real e sua estabilidade, o povo brasileiro ficou em condições de se livrar de eventuais “salvadores”, podendo salvar-se a si mesmo. O controle da inflação tornou-se uma conquista de que a população não abre mão. E enganados estarão os que ousarem pensar em contrário.

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  1. Anônimo8/7/24 06:54

    Obrigado, Frutuoso.

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  2. Anônimo8/7/24 10:42

    Obrigado, Lúcia.

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  3. Anônimo8/7/24 11:26

    Muito bom 👏👏👏👏👏👏👏🙏🙏🙏🙏🙏🙏🙏❤️❤️❤️❤️❤️✂️🪡🧵

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  4. Anônimo8/7/24 14:59

    Parabéns Gil por seu lúcido artigo. Abraço de Eitel.

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  5. Anônimo8/7/24 16:36

    Obrigado, Eitel.

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  6. Parabéns, Gil. Um excelente resumo do que ocorreu há 30 anos.

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  7. Anônimo9/7/24 06:50

    Obrigado, Sérgio.

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  8. Anônimo9/7/24 18:11

    Obrigado, Léo.

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