— Você saiu mais cedo hoje?
— Sim fui ao mar, era quase uma necessidade, entende?
— Sim, entendo estas coisas são fáceis de entender
— O que você procurava ao caminhar até ele?
— Nada em especial, nada específico, talvez você...
— Mas eu estava ao seu lado na cama, como sempre estive todas as manhãs ao acordar, embora tenha achado você um tanto ausente nos últimos tempos. Estou enganado?
— Sempre fui romântica, você não percebia isso depois de tanto tempo? Não percebia isso em mim?
— Claro que percebia, mas não tanto quanto agora.
— Claro, claro. Você tem razão, aliás como sempre. Ter razão é quase um componente essencial na sua vida, meu caro. Não faça proselitismo, por favor. Não é este o caminho para mudar ninguém.
— Concordo, mas você parece irritada. A irritação e a agressividade não sedimentam nada em ninguém e lembram falta de respeito e imaginação, ou ambos, além de serem abomináveis.
— Eu tenho o direito de ser o que sou e não vai ser você quem vai me privar disso.
— Nem pretendo, respondi. Você já é o que é e sempre foi. Não se muda ou se reconstrói ninguém. E quer saber de uma coisa? Eu superei minha capacidade de tolerância e ponto final.
— E eu a você com suas suspeitas infantis.
— A infantilidade não é uma das minhas virtudes, mas a percepção de fatos sim e raramente ela tem me desapontado. E estou cansado do relativismo de suas “verdades”.
— Você é um idiota e...
— Chega, eu não vou subir no ringue, não me interessa mais satisfazê-la ao dividir este espaço onde você brilha com admirável desenvoltura. Vou em busca das planícies da vida, onde a visão a olhos nus vão mais longe.
— Você é ridículo, patético, desprezível e manipulador.
— É uma pena que não percebi em mim estas “qualidades” que você hoje, 15 anos depois, me atribui. Mas delas hoje tomei conhecimento e vou me afastar dos sinuosos caminhos que ainda desprovido de percepções escolhi.
— Vá para o inferno que é o seu lugar.
— Estou saindo dele e como disse, vou em busca das planícies.