O sociólogo francês Roger Bastide, que analisou o comportamento de algumas personalidades da literatura brasileira, sugeriu a existência de uma maldição pesando sobre os poetas, que os fazia viver à margem da sociedade como seres amaldiçoados. Eles, os poetas, seriam vítimas de zombaria e de rancor, que os levava a um sentimento de revolta.
Entretanto, o poeta Cruz e Sousa, nascido em novembro de 1861, brasileiro, catarinense — que ganhou a alcunha de Cisne Negro, e que representou o simbolismo no Brasil — carregou mais uma condição triste que o punha isolado de suas relações, por ser um homem negro num país escravagista, situação que dificultou em dobro sua desenvoltura como escritor.
Essa doentia e presente atitude racista não me parece ter mudado desde o período das grandes colonizações por parte dos europeus, no início do século XVI.
Cruz e Sousa foi ainda considerado o maldito entre os malditos, o poeta marginal. Afinal, ele era negro, quando seus pares eram escravos. Tal tristeza ganhou tratamento poético em seus livros “Broquéis” e “Faróis”, nos quais ele utiliza imagens que remetem ao tema da morte e do mundo espiritual, em oposição à realidade. Adotou elementos obscuros e diabólicos tal qual Baudelaire. Segundo Bastide, os efeitos do racismo apareceram nos biografemas, nas memórias e experiências vividas por Sousa, e transformadas em signos. E, por fim, o racismo surge como tristeza.
O filósofo Epicteto escreveu que o homem não é perturbado pelas coisas que ocorrem contra si, mas, sim, pela visão que tem delas. No caso de Cruz e Sousa, essa teoria não se encaixou, devido às dores provocadas pela realidade da escravidão.
Em meio a esse turbilhão de sentimentos, seu soneto “Coração” foi publicado na capa da primeira edição de O Clarim da Alvorada, em 1924, no qual é possível observar a marca da musicalidade em seus poemas, a sensualidade atraente e, por vezes, o apaziguamento.
A desigualdade exposta em seus textos foi uma transição da alma para o papel, que desenhou frequentemente a falta de oportunidade, que outros, com pele pálida, desfilavam no meio cultural.
Cruz e Souza era poliglota. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter estudado matemática e ciências naturais com o alemão Fritz Müller. Ele não “passou em branco” na vida. Foi um poeta que ficou na memória por seu imenso talento.